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Foi em Curiaú, região remanescente de quilombo a 12 quilômetros de Macapá, capital do Amapá, onde a cultura musical tem como base os sons das caixas de batuque e do marabaixo, que nasceu a primeira Orquestra Quilombola do Brasil. O trabalho é composto por 45 crianças e jovens, que descobriram os instrumentos eruditos como ferramentas de inclusão social, sem esquecer suas origens.
Uma das primeiras comunidades do Brasil a ser registrada e titulada pela Fundação Cultural Palmares (FCP), em 1999, Curiaú possui cerca de 1,6 mil moradores e é o primeiro pólo musical, dos 10 a serem implementados dentro do projeto “Sistema de Bandas e Orquestras do Estado do Amapá – Escola Livre de Música”, da Associação Educacional e Cultural Essência (Aece).
A primeira apresentação oficial – na verdade uma pequena demonstração pedagógica da Orquestra Quilombola – acontecerá nesta quinta-feira (25), às 17h30, na Escola Estadual José Bonifácio, no distrito do Curiaú, com participação da banda do Corpo de Bombeiros.
No Curiaú, além das 45 crianças e jovens que fazem parte da orquestra, outros 55 estão inseridos no projeto da Aece, que prevê iniciação musical com instrumentos de sopro, madeira, de corda e percussão erudita. De acordo com o maestro Elias Sampaio, um dos coordenadores do projeto, após a realização de pesquisas e eventos musicais educacionais foi possível identificar um grande potencial na área educacional da música no quilombo. “A musicalidade do quilombo do Curiaú é imensurável, mas há a necessidade de sistematizar o conhecimento de forma pedagógica”, afirma. “A música é uma ferramenta que mexe com o emocional, autoestima e molda o comportamento daqueles que a usam de forma adequada”, completa.
O presidente da FCP, Eloi Ferreira de Araujo, afirma que essa é mais uma boa notícia para a comunidade negra brasileira em 2012, já que a constitucionalidade da política de cotas foi aprovada no Supremo Tribunal Federal e no Senado, e o Estatuto da Igualdade Racial – lei 12.288 – foi implementado pelo Estado brasileiro.
“Fico muito orgulhoso que essa manifestação da cultura brasileira mais genuína, que é produzida pelas comunidades dos remanescentes dos quilombos, seja acolhida em espaços públicos dessa natureza”, conta. “Com certeza (a apresentação) vai inspirar todas as unidades da Federação a conhecerem a cultura dos remanescentes dos quilombos e expandir a sua própria cultura na música, no teatro, no artesanato e nas demais manifestações brasileiras”, reflete.
A presidente da Aece, Heloisa Batista, se emociona ao falar do projeto. “Nosso objetivo não é formar músicos, mas estimular a criatividade, a sensibilidade para a música, por isso a apresentação deles terá caráter pedagógico”, afirma. “Eles estão estudando e treinando há dois meses, mas já estão nos surpreendendo”, conta.
O projeto – O Sistema de Bandas e Orquestras do Estado do Amapá – Escola Livre de Música busca cumprir o papel de inclusão social de crianças e adolescentes, difundindo a cultura no Estado.
Com investimento de uma empresa de telefonia e apoio do Governo do Amapá, por meio das Secretarias de Estado da Cultura (Secult) e da Inclusão e Mobilização Social (SIMS), o Sistema Estadual de Bandas e Orquestras do Amapá e a Escola de Música da Associação Educacional e Cultural Essência (Aece) tem como coordenador-técnico e diretor artístico o maestro Elias Sampaio, que é músico, arranjador, educador musical e idealizador do Festival de Música do Estado do Amapá.