As últimas do mineiro
Zuenir Ventura
Talvez porque numa das vezes em que alguém bateu com a língua nos dentes um pescoço foi parar na forca, Minas trabalha em silêncio, como se diz. Pode não ser verdade, mas é a versão, que acaba prejudicando mais do que favorecendo a imagem de um estado que, além das riquezas naturais e de uma poderosa tradição política, tem o maior patrimônio histórico-cultural do país. Numa época de predomínio do marketing, em que o importante é mostrar mais do que fazer, ficar calado no seu canto pode não ser um bom negócio.
Como afirma um amigo de Belo Horizonte, “temos os melhores grupos de dança do país, cantores e compositores excelentes, artistas plásticos e grupos teatrais de alta qualidade, mas não divulgamos, temos pudor de nos exibir, de mostrar ao país o que somos”.
Ele acredita que de fora se tem uma visão regionalista limitada à memória e à questão do patrimônio histórico, à longa tradição de pedra e cal da cultura mineira. Sem descuidar desse acervo (só de barroco estão ali 65% do patrimônio nacional), o desafio dos governantes mineiros é mostrar sem reserva o que Minas tem de mais moderno, cosmopolita e contemporâneo.
Mas acho que não será fácil assim. A não ser meu amigo Ziraldo, que adora se mostrar, tendo aliás razão para isso, que outro mineiro vocês imaginam chamando a atenção para o que está fazendo? Num artigo famoso, Guimarães Rosa listou 66 adjetivos com os quais são caracterizados seus conterrâneos. Eles vão de “acanhado, afável, desconfiado” até “sonso, sóbrio, taciturno, tímido”, passando por “precavido, pão-duro, perspicaz, quieto, irônico, meditativo”.
Fernando Sabino, que conhece a alma mineira como a dele próprio, tem várias histórias para ilustrar como seus conterrâneos ficam sempre na moita. Mineiro não gosta de revelar nem a identidade.
- Qual é o seu nome todo? — pergunta o carioca.
- Diz a parte que você sabe — desconversa o mineiro.
Nessa aqui o escritor conta o diálogo com um motorista mineiro em Nova York:
- Ah, você também é de Minas?
- Sou sim sinhô.
- De onde?
- De Minas mesmo.
Se consegue esconder até de onde é, imagina quando lhe pedem uma opinião política.
- Que tal o prefeito daqui?
- O prefeito? É tal qual eles falam dele.
- Que é que falam dele?
- Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo que é prefeito.
Há quem alegue que o que se diz em forma de anedota está longe de ser a verdade sobre Minas, são apenas versões. Então me lembro do dia em que alguém reclamou de José Maria Alkmim: “Criei a frase ‘o que importa é a versão, não o fato’, e todo mundo atribui ela a você. Ao que ele respondeu: “Isso só confirma a frase.”
Portanto, imprima-se a versão.
Assinale a opção em que a mudança na ordem das palavras acarreta alteração de sentido:
Escolha uma opção:
a. “poderosa tradição política” = “tradição política poderosa”
b. “pode não ser um bom negócio” = “não pode ser um bom negócio”.
c. “ficam sempre na moita” = “ficam na moita sempre”.
d. “Como afirma um amigo de Belo Horizonte” = “Como um amigo de Belo Horizonte afirma”.
e. Em nenhuma alternativa a ordem das palavras altera o sentido.
Respostas
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1
Resposta:
Olá anjinho,
A alternativa correta é a letra B.
Explicação:
Na frase " pode não ser um bom negócio ", a parte "pode não ser" indica incerteza.
Na frase " não pode ser um bom negócio ", está afirmando .
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