Respostas
Durante todo o período medieval fora o setor agrícola o verdadeiro motor da economia. Apenas no final do período o comércio suplantou a exclusividade do anterior. Durante o século XV também se assistiu a um esforço de melhoramento das técnicas com algumas invenções que contribuíram para um impulso posterior na produção industrial. Foi o setor secundário o grande beneficiário das técnicas que muito pragmaticamente se iam aplicando o que originou o pré-capitalismo, ainda que hesitante.
Parece incorreta a designação de "Revolução Industrial" ao desenvolvimento ocorrido na Europa dos séculos XVIII e XIX. De facto, não houve uma transformação repentina, brusca ou conflituosa, antes é o fruto de um lento caminho percorrido a partir dos derradeiros anos da Idade Média e no Renascimento, períodos em que se verificaram diferentes disponibilidades materiais e mentais, entenda-se, a acumulação de capitais possível através do tráfico de produtos dos territórios recentemente descobertos e da mentalidade individualista propícia à iniciativa.
Ainda durante o período medieval, os ofícios obedeciam às rígidas regras do corporativismo, o que muitas vezes levou a um protecionismo redutor do desenvolvimento económico. O fenómeno da organização corporativa tem sido apontado como uma das consequências do facto de no fim da Idade Média os ofícios artesanais terem sido conquistados pela indústria que nascia a medo. Assim assiste-se durante os séculos XIV e XV, na Alemanha e nos Países Baixos, à crescente regulamentação escrita das corporações de ofícios que era oficializada publicamente. Os ofícios passam a estar concentrados no interior da muralha da urbe, existindo mesmo proibições para a abertura de oficinas fora da cidade, lei que muitas vezes foi imposta com violência, com a destruição de unidades manufatureiras que não obedeciam ao estabelecido. Gerou-se uma rivalidade entre as oficinas urbanas e as que se implantavam nas zonas rurais. Muitos dos conflitos entre os grandes centros e as pequenas cidades e aldeias perduraram até muito tarde (séc. XVII).
Segundo Bartolomé Benassar, a Europa industrial existiu antes do século XVI sem ter qualquer característica de revolução. Ocorreram algumas inovações importantes, mas uma mudança no mundo energético não se verificou, pois eram utilizadas as mesmas fontes de energia, com as suas consequentes limitações. Só muito lentamente é que se foram introduzindo algumas melhorias, por forma a torná-las mais eficazes. O problema que muitas vezes é apontado como entrave ao desenvolvimento mais rápido da indústria é a inexistência de uma verdadeira revolução agrária. O volume de produção mantinha-se sem aumentos radicais.
A evolução fez-se por outras vias. Não nos podemos esquecer de que a Europa vivia um momento favorável de expansão comercial que se fazia sobretudo através das vias marítimas. Podemos procurar aqui um dos grandes motivos da evolução da indústria dos metais, das madeiras, das telas e dos instrumentos de precisão, matérias primas e objetos indispensáveis. Outros dois setores são os que decorreram, por um lado, dos conflitos entre os Estados europeus ou proporcionados pela tarefa de conquista dos territórios ultramarinos que motivaram um desenvolvimento da indústria de armas e munições e, por outro, dos avanços nas técnicas de impressão que exigiram maquinarias mais sofisticadas e mão de obra especializada, facto que era comum à maioria das unidades de produção industrial.
Como já referenciámos, a dicotomia campo/cidade nos sistemas de produção, primeiro artesanal e depois industrial, foi colocada inúmeras vezes, provocando conflitos agudos entre os intervenientes. A implantação de manufaturas no campo era uma forma de fugir aos regulamentos pouco maleáveis das corporações, alcançando assim uma maior liberdade nas fases de produção e comercialização, o que se mostrou benéfico com o alargamento da procura. Durante estes séculos de desenvolvimento industrial verifica-se uma enorme promiscuidade entre as atividades rurais e industriais - o trabalhador da indústria acumula muitas vezes o trabalho no campo com o trabalho nas minas ou nas unidades têxteis que estão situadas num ambiente rural. O recrutamento de mão de obra nos campos tornou-se habitual e vantajoso, pois estes trabalhadores adaptavam-se melhor às exigências do empresário e recebiam salários muito inferiores aos que se tinham de pagar aos trabalhadores das cidades (naturalmente que os direitos e a proteção dos operários camponeses não estariam tão bem assegurados; estes nem sequer têm a propriedade das ferramentas com que trabalham). Só as indústrias de tipografia, de armas e de cortumes se desenvolveram maioritariamente nas cidades. É na produção têxtil que a conjugação de um trabalho industrial e de um trabalho na agricultura mais se faz notar entre os trabalhadores. Quando o camponês tinha tempos livres deixados pela agricultura ocupava-se das diferentes fases da produção de panos. .
espero ter ajudado (: < )