Respostas
Esta é a pergunta ética por excelência que Sócrates fez há mais de dois mil anos.
Se ainda se busca tal resposta, é porque a questão é complexa. E para toda questão complexa há saídas fáceis e preguiçosas:
a saída relativista é afirmar que não existe certo nem errado: o homem é a medida de todas as coisas, dizia o sofista Protágoras, um dos rivais de Sócrates. Por achar bobagem a busca pela verdade moral, ensinava meras técnicas de retórica e oratória para seus alunos em troca de dinheiro. Os sofistas são os pais da publicidade e do marketing político moderno
a saída cética também tem certo tom demissionário: Já que para cada um que fala o que é certo há outro que diz que tal ponto é errado, o melhor é suspender o juízo e viver em tranquilidade, pautando-se pelo senso comum.
a saída utilitarista já é mais corajosa ao afirmar que certo é tudo aquilo que gera o maior prazer ao maior número de pessoas. Contudo, quem vive em um dilema entre salvar uma única pessoa querida e mil anônimos deve compreender tal ética como risível.
a saída voluntarista dita que certo é fazer o que nossa vontade nos manda fazer. Até que ponto, contudo, que obedecer à vontade gera prazer e não uma sensação de aprisionamento? Até que ponto o prazer não tolhe nossa liberdade, quando buscamos o prazer e o bem-estar a qualquer custo?
Tanto estas como outras soluções possuem, em situações extremamente específicas, seus valores. A filosofia, contudo, herdeira do projeto socrático, deve ter como única regra a recusa de soluções fáceis e reducionistas.
Para tratar filosoficamente da questão, faz-se necessário notar que andamos nos ombros de gigantes: olhar para o passado, sem medo, mas com o devido respeito, é recomendável para não cairmos na arrogância de achar que criamos a solução ética depois de mais de 2000 anos de homens dedicando vidas e mortes a tais questões.
Platão, discípulo de Sócrates, dará certos pontos gerais para uma conduta ética que leve em conta a complexidade da atitude e do desejo humano. Identificará, primeiro uma alma tripartite: concupiscível (sensual), irascível (impulsos e afetos) e racional. Vejamos:
A parte apetitiva (epithymetikón) requer temperança (sophrosýne)
A parte irascível (thymoeidés) requer coragem (andría)
A parte racional (loghistikón) requer sabedoria ou prudência (phrónesis)
A quarta virtude é a harmonia entre tais partes da alma. Essa virtude é a justiça (dikaiosýne). Essas são as quatro virtudes fundamentais, inclusive para o cristianismo: prudência, justiça, coragem e temperança.
Platão ainda acrescenta que uma virtude prática (phrónesis), mais geral, não pode ser ensinada: ela consiste no conhecimento de como fazer melhor uso do que se possui.
Já Aristóteles, discípulo de Platão, no lugar da Ideia do Bem ele oferece a felicidade (eudaimonia) alcançada apenas por meio de uma vida virtuosa.
A ética aristotélica é a ética das virtudes (areté). Ethos significa comportamento, habito, costumes. Ética aristotélica, portanto, é uma ciência da prática. Você só vai conhecer a coragem sendo corajoso e a generosidade sendo generoso. Virtude (areté) consiste no termo médio entre duas tendências humanas opostas, o excesso e a falta. Exemplo: coragem é o meio-termo entre covardia e temeridade.
É impossível discutir o certo e o errado sem discutir a influência cristã, base da civilização ocidental. A crença nas palavras de Jesus Cristo é exatamente a crença em palavras absolutas: o cristianismo é acontecimento histórico que nega as reduções éticas acima listas. Ao encarnar, Deus dá exemplo de amor e sacrifício como bússola ética.
Do mesmo modo, o desenvolvimento da doutrina cristã, prncipalmente com São Tomás de Aquino, desenvolve profundamente as noções dos sete pecados capitais e das sete virtudes celestiais.
Por fim, pulemos séculos e vejamos o que diz Viktor Frankl, psiquiatra e psicólogo sobrevivente de Auschwitz, fundador da chamada logoterapia.
Diz Frankl que só entendemos que somos responsáveis pelo nosso destino - pelo sentido da nossa vida - quando apostamos em uma destras três formas:
criando um trabalho ou praticando um ato
experimentando algo ou encontrando alguém
pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável
O sofrimento inevitável por excelência é a morte. É ela, conforme os existencialistas Kierkegaard e Camus, que nos gera a angústia capaz de nos fazer recuar da agitação da vida efêmera em busca da autotranscendência.
espero que esteja certo e te ajude!