"Estou cansado de ouvir isso. Não é só aqui dentro, é lá fora também", desabafou João.
Eu sei, João, também estou cansada. Uma das primeiras experimentações racistas que um
ser humano que se identifica como negro vai viver é na sua infância, e ela possivelmente
estará ligada ao seu cabelo. A professora Nilma Lino Gomes apresenta a tese de que o
ambiente escolar é um dos primeiros lugares dessa violência racista para com o cabelo no
artigo "Trajetórias Escolares, Corpo Negro e Cabelo Crespo".
“Não adianta vir com discurso de que você não teve a intenção de fazer”, continuou João. É
algo que vale destacar da situação que se estendeu para a noite desta segunda durante o
programa ao vivo. Depois de confrontar Rodolffo, João parecia que já sabia a sequência que
viria para amenizar a situação.
Ali se desenhou uma narrativa que é quase um fenômeno nas desculpas de pessoas que
protagonizam situações de violência simbólica racial. Ela funciona da seguinte forma –dizer
que não se teve intenção, como se ter ou não pudesse amenizar a situação, como se ter ou não
o propósito de ser racista fosse o problema.
Como se a construção de agressões como essas não estivesse ligada à história racista deste
país e a como lidamos com a aparência e principalmente os cabelos de pessoas negras por
aqui. É como se a dor e o choro de João fossem construídos em cima de nada, por mero
capricho. É como se nessas justificativas deixássemos passar a história racista de
miscigenação, numa tentativa de aniquilar os traços negros da população.
O peso da história que não apaga a instituição branquitude, que opera a todo momento para
ditar como a brancura é o único padrão de beleza possível, vai quase esvaindo o peso cultural
deste país que pregou por séculos o ódio próprio para os negros.
Por último, e quase me esqueço, tudo isso aconteceu na emissora que por anos perpetuou um
racismo recreativo por meio de representações caricatas de negros que se apresentavam
como humorísticas. Era o caso da pedinte Adelaide, no antigo Zorra Total –que o humorista
Rodrigo Sant'Anna encarnava com um blackface, quando uma pessoa branca pinta o corpo e
o rosto de preto.
A situação lamentável de testemunhar João Luiz chorando em rede nacional nos serve de
alerta de que a violência direcionada a negros não se desenha apenas nos alarmantes dados
de extermínio dos mapas da violência urbana ou nas prisões equivocadas baseadas em fotos e
em achismo vistos em tantos relatos de prisões de afrodescendentes.
Além disso, a violência não se encerra nos xingamentos de primata, que para alguns
brasileiros parece ser o máximo da materialização do que pode ser de fato uma atitude
discriminatória baseada na cor da pele. Ao contrário, essas atitudes também moram nas
piadas e comentários que violentam a aparência e a autoestima de nós, negros.
A verdade é que me faltaria espaço neste texto para falar sobre todas as tecnologias criadas e
herdadas de outras gerações para cometer atrocidades contra a população negra.
Mas vale reiterar que violência racial não é entretenimento. Não podemos aceitar que um
apresentador chame de “desentendimento” um caso que não só atinge um participante, mas
também quem o vê. Isso transmite uma péssima ideia de que determinadas situações podem
ser amenizadas em vez de punidas. Ficamos com a sensação de que existem outras
interpretações para a situação que não seja o racismo –que talvez possa existir um equívoco
ou exagero da parte de João Luiz.
Não se deve normalizar esse episódio e muito menos ditar a reação que o professor deveria
ter tido, sendo “mais didático” ou conversando em particular com Rodolffo. Isso só mostra
como culturalmente existe um lugar confortável para continuar violentando as vítimas de
racismo para que elas se comportem a ponto de não denunciar ou questionar se foram
vítimas ou não.
Num país que aponta que 54% da sua população se identifica como negra, o mínimo que se
espera, além de reparação e justiça, é não regularizar gente preta em grande sofrimento na
televisão como alguma categoria de entretenimento. Porque não é. É condenável, é chocante
e detestável. E como disse Babu Santana, participante da edição anterior do programa, "o
black é a coroa”.
b) Transcreva um trecho do texto que contenha uma conjunção adversativa, sublinhando-a.
Explique qual o contraste presente ali.
c) Transcreva um trecho do texto que contenha uma conjunção explicativa, sublinhando-a.
Explique qual a explicação presente ali.
d) Explique como os sentidos de adição e alternância estão sendo gerados no trecho a seguir:
“A situação lamentável de testemunhar João Luiz chorando em rede nacional nos serve de
alerta de que a violência direcionada a negros não se desenha apenas nos alarmantes dados
de extermínio dos mapas da violência urbana ou nas prisões equivocadas baseadas em fotos e
em achismo vistos em tantos relatos de prisões de afrodescendentes.”
Respostas
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0
Resposta:
td isso Mano Menezes 222de
nandinhagabi2302:
ajudo poha ninhuma nice
respondido por:
1
mesmo depois de tudo isso o Rodolffo eo meu idolo
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