Leia o conto de assombração a seguir.
Em um pequeno povoado ao sul do México, vivia uma moça chamada Celina. Filha de um casal de fazendeiros, ela era belíssima. Cabelos loiros como braços do sol de meio-dia. Pele alva como o cume das montanhas ao longe. E ajudava os pais nas lidas rurais, sem perder o brilho do olhar e o bom humor.
[...] Um dia, apareceram algumas mulas, carregando sacos de carvão, presas em um poste. As pessoas do vilarejo se assustaram. Era sinal de que o Sombreirão estava por perto. A lenda corria solta na zona rural do país. O Sombreirão era um homem baixo, dono de um sombreiro enorme, que vagava junto ao seu violão e às mulas. Contam que a melodia saída do dedilhar dos dedos do Sombreirão é capaz de hipnotizar jovens que se deixam levar pelas canções de amor impossível.
Por isso, o alvoroço se instalou no local. Todos se retiraram para suas casas antes do anoitecer. Quando a lua está a pino, o Sombreirão aparece e toca o violão. A mãe de Celina, nervosa e apreensiva pela filha, tranca-a no quarto. Celina tenta conversar, mas em vão. Resignada, deita na cama e olha para a vela. Ainda era muito cedo para deitar-se. O que estaria acontecendo? A mãe sempre lhe falava tudo, mas agora todos falavam furtivamente. Celina podia ouvir apenas sussurros.
Cansada de ficar à espreita, a moça prepara-se para dormir. O travesseiro fofo ser-lhe-ia a única companhia, quando levanta e se dirige à janela. Uma melodia ao longe teimava em entrar noite adentro. Encostou o ouvido às grades. A música era linda. A voz doce cantava ao longe: “Meus olhos caminham junto ao luar, vão seguindo par a par, ao te ver passar”.
Adormeceu ouvindo os versos românticos. Acordou curiosa, perguntou a todos se ouviram a música da noite anterior. Ninguém tinha ouvido. Levantou-se, disse que ia para a roça. Mentiu, saiu pelas ruas à cata do cantor da melodia inesquecível. Caminhou tanto, até os pés ficarem vermelhos e com bolhas. Seus pais, preocupados, procuravam por ela. Junto a amigos, encontraram-na chorando, atrás de um canavial.
As perguntas saíram antes das broncas. A preocupação era tanta que esqueceram de ralhar com a jovem. Celina não parava de chorar e perguntava aos moradores se haviam ouvido a música. Logo perceberam que a moça estava sob feitiço do Sombreirão. Sem pestanejar, a mãe de Celina trancou-a na igreja. A sabedoria popular dizia que fantasmas ou forças ocultas não entram em recintos sagrados.
Assim feito, respiraram aliviados. A família da moça ia visitá-la todos os dias, levando comida e roupa. Celina não comia, estava inerte. Não respondia aos rogos da mãe. Não mais falava na música. Estava triste por tê-la perdido.
A semana passou e a bela Celina ficara mais fraca. Doente, os olhos sequer se moviam. As mulas continuavam vagando pela cidade. O Sombreirão buscava a jovem. Sabia que ela havia sorvido o seu dedilhar. E a procurava, sem êxito.
No sétimo dia, Celina amanheceu morta. Pálida, não havia dormido a noite. Olhava para a cruz, perdida em um ponto qualquer do rosto de Cristo. A mãe da moça a embalava nos braços, chorava pela morte prematura de um esplendor de candura e juventude.
O corpo da jovem imediatamente foi envolvido em um tecido transparente. Uma bela esquife tinha sido encomendada às pressas e, no fim da tarde, já estava pronta. A vila inteira acompanhou o cortejo de Celina até o alto cemitério. A lua ensaiava aparecer, céu estava avermelhado no horizonte.
Quando se preparavam para colocar o corpo da moça na sepultura, uma voz chorosa fez-se ouvir, cantando alto: “Oh, coração de pau santo, meu lindo ramo de limão florido. Por que deixai esquecido a quem sempre te quis tanto”. Os olhos do cortejo procuravam o dono da melodia e se depararam com o Sombreirão e suas mulas. O padre tentou avançar, o canto do homem o impediu: “Amanhã, quando te fores, sairei pelos caminhos, a cobrir teu rastro com lágrimas e suspiros”. Depois disso, foi-se o baixinho, carregando atrás as mulas e sumindo em uma trilha de névoa.
Estarrecidos, os moradores jamais esqueceriam o cortejo funesto da jovem Celina, vítima de um amor impossível...
CONTOS de assombração: co-edição latino-americana. 4. ed. São Paulo: Ática, 1985.
A passagem do conto anterior que expressa o clímax, ou seja, o momento de maior tensão da história, é
"Era sinal de que o Sombreirão estava por perto".
"Não mais falava na música. Estava triste por tê-la perdido".
"Logo perceberam que a moça estava sob feitiço do Sombreirão".
"A vila inteira acompanhou o cortejo de Celina até o alto cemitério".
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Resposta:
"Logo perceberam que a moça estava sob feitiço do Sombreirão".
Explicação:
Considera-se o clímax de uma narrativa o momento em que ocorre o fato que é considerado o ponto extremo da complicação apresentada. No caso desse conto, o clímax se dá quando Celina surge apaixonada por Sombreirão.
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Resposta:
Logo perceberam que a moça estava sob feitiço do Sombreirão".
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