O açúcar
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça,
água na pele,
flor que se dissolve na boca.
Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina
e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há
hospital nem escola,
homens que não sabem ler e morrem
aos vinte e sete anos
plantaram e colheram a cana
que viria a ser o açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura
produziram este açúcar branco e puro
com que adoço meu café esta manha em Ipanema.
1 De acordo com a estrutura, podemos dizer que um Soneto apresenta:
Respostas
respondido por:
3
Resposta:
Perceba como o poeta usa o adjetivo "amarga" para se referir à vida dos cortadores de cana justamente por constrastar com o adjetivo "doce", que se refere ao produto do seu trabalho (o açúcar). O mesmo acontece com "branco" versus "escuro". O produto branco é feito em usinas escuras.Há um contraste de palavras e ideias.
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