• Matéria: Português
  • Autor: Anonimo0107
  • Perguntado 4 anos atrás

Quem nunca roubou não vai me entender. E quem nunca roubou rosas, então, é que jamais poderá me
entender. Eu, em pequena, roubava rosas. Havia em Recife inúmeras ruas, as ruas dos ricos, ladeadas por palacetes
que ficavam no centro de grandes jardins. Eu e uma amiguinha brincávamos muito de decidir a quem pertenciam
os palacetes. “Aquele branco é meu.” “Não, eu já disse que os brancos são meus.” “Mas esse não é totalmente
branco, tem janelas verdes.” Parávamos às vezes longo tempo, a cara imprensada nas grades, olhando.
Começou assim. Numa das brincadeiras de “essa casa é minha”, paramos diante de uma que parecia um
pequeno castelo. No fundo, via-se o imenso pomar. E, à frente, em canteiros bem ajardinados, estavam plantadas
as flores.
Bem, mas isolada no seu canteiro, estava uma rosa apenas entreaberta cor-de-rosa-vivo. Fiquei feito
boba, olhando com admiração aquela rosa altaneira que nem mulher feita ainda não era. E então aconteceu: do
fundo de meu coração, eu queria aquela rosa para mim. Eu queria. Ah! como eu queria. E não havia jeito de obtêla. Se o jardineiro estivesse por ali, pediria a rosa, mesmo sabendo que ele nos expulsaria como se expulsam
moleques. Não havia jardineiro à vista, ninguém. E as janelas, por causa do sol, estavam de venezianas fechadas.
Era uma rua onde não passavam bondes e raro era o carro que aparecia. No meio do meu silêncio e do silêncio
da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até
sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume.
Então não pude mais. O plano se formou em mim instantaneamente, cheio de paixão. Mas, como boa
realizadora que eu era, raciocinei friamente com minha amiguinha, explicando-lhe qual seria o seu papel: vigiar
as janelas da casa ou a aproximação ainda possível do jardineiro, vigiar os transeuntes raros na rua. Enquanto
isso, entreabri lentamente o portão de grades um pouco enferrujadas, contando já com o leve rangido. Entreabri
somente o bastante para que meu esguio corpo de menina pudesse passar. E, pé ante pé, mas veloz, andava pelos
pedregulhos que rodeavam os canteiros. Até chegar à rosa foi um século de coração batendo.
Eis-me afinal diante dela. Paro um instante, perigosamente, porque de perto ela ainda é mais linda.
Finalmente começo a lhe quebrar o talo, arranhando-me com os espinhos, e chupando o sangue dos dedos.
E, de repente – ei-la toda na minha mão. A corrida de volta ao portão tinha também de ser sem barulho.
Pelo portão que deixara entreaberto, passei segurando a rosa.
E fui para longe da casa. O que é que fazia eu com a rosa? Fazia isso: ela era minha

01. O Texto A está construído segundo o esquema de
A) uma narrativa: nele há uma sucessão de fatos, relatados segundo uma ordem ou progressão.
B) uma descrição: nele são mostradas situações sem referência a uma sequência temporal.
C) dissertação: revela-se como um texto opinativo, em que se argumenta a favor de uma idéia.
D) exposição: nele se transmite um saber ou se dá explicação sobre determinado assunto.
E) instrução: é um texto programador, voltado para orientar uma sequência de ações.
02. Como elemento polarizador e central do Texto A, pode-se apontar
A) as inúmeras ruas do Recife, sobretudo as ruas onde moravam os ricos.
B) os palacetes imponentes, que ficavam no centro de grandes jardins.
C) o jardineiro na sua função de assegurar a manutenção do jardim.
D) a rosa: como símbolo do simples prazer de possuir o que é belo.
E) a amiguinha com quem é dividido o prazer inocente do roubo.

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respondido por: ma3066584
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Explicação:

Letra b

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