• Matéria: Português
  • Autor: thilianunes7
  • Perguntado 4 anos atrás

Papai, você deixa eu ter um cabrito no meu sítio?

        -- Deixo.

  -- E porquinho-da-índia? E ariranha? E macaco? E quatro cachorros? E duzentas pombas? E um boi? Um rinoceronte?

        -- Rinoceronte não pode.

        -- Tá bem, mas cavalo pode, não pode?

        O sítio é apenas um terreno do estado do Rio, sem maiores perspectivas imediatas. Mas o garoto precisa acreditar no sítio, como outras pessoas precisam acreditar no céu. O céu dele é exatamente o da festa folclórica, a bicharada toda, e ele, que nasceu no Rio e, de má vontade, vive nessa cidade sem animais.

        Aliás, ele mesmo desmente que o Rio seja uma cidade sem bichos, possuindo o dom de descobri-los nos lugares mais inesperados. Se entra na casa de alguém, desaparece ao transpor a porta, para voltar depois de três segundos com um gato ou cachorro na mão. A gente vai andando por uma rua em Copacabana, ele some e ressurge com um pinto em flor. É chegar na Barra da Tijuca, e daí a cinco minutos, já apanhou um siri vivo.
 Localiza eletronicamente todos os animais da redondeza, anda pela rua em disparada, cumprimenta aqui um papagaio, ali um ganso, mais adiante um gato, incansável e frustrado.
Não distingue marcas de automóvel, em futebol não vai além de Garrincha e Nilton Santos, mas sabe perfeitamente o que é um mastiff, um boxer, um doberman. Dá informações sobre as pessoas de acordo com os bichos que possuam: aquele é o dono do Malhado, aquela é a dona do Lord... Ao telefone, pergunta por patos, gatos, e outros cachorros, centenas, milhares de cachorros, cachorros que prefere aos companheiros, cachorros que o absorvem na rua, na escola, na hora das refeições, cachorros que costumam latir e pular em seus sonhos, cachorros mil.

        Sua literatura é rigorosamente especializada: livros coloridos sobre bichos. Engatinha mal e mal na leitura, mas fala com uma proficiência um pouco alarmante a respeito de répteis, batráquios etc. Filho de mãe inglesa, confunde forke knife, mas sabe o que é seal e walrus. Se pede um pedaço de papel é para desenhar a zebra ou a baleia.

        É claro que sua frustração causa pena. Por isso mesmo, há algum tempo, ganhou como consolo um canarinho-da-terra. Um dia, como lhe dissessem que iam dar o passarinho, caso continuasse a comportar-se mal, correu para a área e abriu a porta da gaiola.

        Deram-lhe um bicudo, mas o bicudo morreu de tanto alpiste. Ganhou, mais tarde, uma tartaruga, pequenina e estúpida, que recebeu na pia do banheiro o nome de Henriqueta. Nunca qualquer outro quelônio deu tanto serviço. Foi ao dentista na cidade, e, ao voltar, disse ao pai, pela primeira vez, uma palavra horrível: estou desesperado. Tinha perdido a tartaruguinha no lotação.

        Ficou o vazio em sua vida. O alívio era ligar o telefone interurbano para a avó e indagar pelos patos que “possuía” em outra cidade. Ou fazer uma visita à futura mãe de Poppy, este é um poodle que deverá nascer daqui a meio ano, prometido de pedra e cal para ele.

        Outro expediente: caçar borboletas, mariposas, grilos, alojar carinhosamente os insetos nas gaiolas vazias, chamar-lhes pelos nomes dos antigos bichos mortos ou desaparecidos.

        Um tio deu-lhe outra vez um canário, o carinho foi demais, o passarinho morreu. Não há nada a fazer, por enquanto, e ele dedicou-se à arte de desenhar bichos. De vez em quando, ainda se anima e entra em casa afogueado, mostrando alguma coisa invisível nas mãos: “Olha que estouro de grilo!”

        Mas os grilos e as borboletas legais morrem ou saem tranquilamente das gaiolas, e ei-lo novamente de mãos e alma vazias.

        Deu um jeito: arranjou alguns pires sem uso e plantou sementes de feijão. O banheiro está cheio de brotos verdes, tímidos. E ele já sabe que possui uma fazenda.

1 - a crônica menino de cidade retrata o cotidiano? Explique

2- o que o narrador quer dizer a se referir ao sítio como um terreno sem maiores perspectivas imediatas??

3- ao mencionar que o garoto se confunde com fork e Knife mas não com Seal e walrus o que o narrador que enfatizar?

4- de que forma o narrador inicia a crônica menino de cidade? Qual é o efeito decorrente do uso desse recurso no início da crônica?

5- nessa crônica o narrador em primeira pessoa ou em terceira pessoa? identifique no texto um trecho que comprove sua resposta?

6- em qual suporte a crônica foi publicada?

Por favor preciso urgente

Respostas

respondido por: reisnilton
2

Resposta:  e a letra c

Explicação: Questão de múltiplia escolha

Menino de cidade — Papai, você deixa eu ter um  

cachorro no meu sítio? — Deixo. — E um porquinho

da-índia? E ariranha? E macaco e quatro cabritos?  

E duzentos e vinte pombas? E um boi? E vaca?  

E rinoceronte? — Rinoceronte não pode. — Tá bem, mas

cavalo pode, não pode? O sítio é apenas um terreno no

estado do Rio sem maiores perspectivas imediatas. Mas  

o garoto precisa acreditar no sítio como outras pessoas

precisam acreditar no céu. O céu dele é exatamente o

da festa folclórica, a bicharada toda e ele, que nasceu  

no Rio e vive nesta cidade sem animais.

CAMPOS, P. M. Balé do pato e outras crônicas.

São Paulo: Ática, 1988.

Nessa crônica, a repetição de estruturas sintáticas, além de fazer o texto progredir, ainda contribui para a construção de seu sentido,

demarcando o diálogo desenvolvido entre o pai e o menino criado na cidade

opondo a cidade sem animais a um sítio habitado por várias espécies diferentes

revelando a ansiedade do menino em relação aos bichos que poderia ter em seu sítio.

pondo em foco os animais como temática central da história narrada nessa prosa ficcional.

indicando a falta de ânimo do pai, sem maiores perspectivas futuras em relação ao terreno


thilianunes7: são as respostas??
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