• Matéria: Filosofia
  • Autor: manuellemaiolino
  • Perguntado 4 anos atrás

qual foi a importância do pensamento arabe para a construção da filosofia medieval no ocidente?​
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respondido por: analice14araujo
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Resposta:Na opinião do medievalista Alain de Libera, o texto de Avicena é a primeira grande obra filosófica que chegou ao Ocidente. Em Pensar na Idade Média, ele escreve: “Esquece-se com muita freqüência que os latinos conheceram Avicena antes que Aristóteles houvesse sido integralmente traduzido.” Mais adiante, afirma, ainda com mais ênfase. “Se houve no século 13 uma filosofia e uma teologia ditas ‘escolásticas’, é primeiramente porque Avicena foi lido e estudado desde o final do século 12. Foi Avicena, não Aristóteles, que iniciou o Ocidente na filosofia.”

Aqui importa lembrar que Aristóteles, assim como Pitágoras, Platão, Plotino, Porfírio, Alexandre de Afrodísia, Galeno e Jâmblico, só puderam ser “descobertos” na Idade Média ocidental em razão das versões dos textos originais em árabe feitas por cristãos nestorianos, jacobitas e melkitas, que, fugindo de perseguições religiosas, se instalaram na região da Mesopotâmia a partir do século 5. São esses autores clássicos as matrizes do pensamento árabe que se desenvolveu nos séculos seguintes, caracterizado por uma efervescência cultural que em nada lembra as “trevas” em que parte da Europa estava mergulhada no mesmo período.

Durante o califado de Harun al Rachid, que vigorou entre os anos 786 e 809 do calendário cristão, por exemplo, foram traduzidas obras de medicina, astronomia, moral, música, geografia e alquimia. A tradução das obras sobre animais e botânica de Aristóteles, de alguns diálogos de Platão e o estabelecimento das fontes das Mil e Uma Noites também são desse período. Pouco mais de um século antes, deu-se o fato que desencadeou todo esse processo: o surgimento do Corão, fonte primordial do islamismo e terceiro livro divino, precedido pela Torá e pelos Evangelhos. Composto de 6 mil versículos, o livro trazia princípio básico do pensamento árabe que se desenvolveria a partir de então: a unicidade de Deus.

Assim, não é possível separar com clareza a teologia da filosofia praticada na época, uma vez que esta última nasce da necessidade de conferir um fundamento racional à revelação divina. Desse modo, o pensamento filosófico no Islã procurou sistematizar o encontro entre a recém-nascida fé no Corão e o lógos herdado dos gregos. É nisso que trabalham os filósofos árabes, Avicena à frente.

Pouco tempo depois, na Idade Média latina adepta do cristianismo, essa mesma tentativa de aplicar a razão herdada dos gregos para fundamentar a crença religiosa cristã seria o motor do pensamento. Mais uma vez, é Alain de Libera quem explica. “Se quisermos, com Heidegger, caracterizar a metafísica ocidental como uma ‘onto-teologia’, é em Avicena que devemos, para várias gerações, buscar sua entrada decisiva e seu modelo diretor”, escreve o medievalista. E, adiante, complementa. “É portanto com Avicena que a influência do pensamento muçulmano sobre a Idade Média latina adquire seu primeiro e verdadeiro contorno: este autor não apenas inicia o ocidente na razão, no seu uso profano, em uma palavra, na ciência; ele o introduz também na racionalidade religiosa, uma racionalidade muito estrita posta a serviço, pela primeira vez e rigorosamente, de uma religião monoteísta.”

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