Respostas
As relações entre os Estados Unidos e a Rússia são de natureza conflituosa, desde a ascensão de W. Putin à presidência da Federação da Rússia. E são assimétricas, no sentido da inferioridade da Rússia, em suas dimensões econômica e militar, embora ocupe lugar importante no mercado energético e detenha poderoso arsenal nuclear.
Isso não obstante, o foco da temática relativa à Rússia na mídia ocidental demoniza V. Putin, entendendo como agressiva sua política externa. Os argumentos utilizados referem-se à atuação da Rússia, no sentido do estreitamento das relações com os países de sua esfera de influência, ex-repúblicas da URSS, com alguns dos quais criou uma União Econômica Eurasiana; e à anexação da Crimeia à Rússia e o apoio que é por ela dado aos rebeldes ucranianos das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetz e Lugansk, no sudeste do país, à sua reivindicação de autonomia em relação ao governo central. Cabe ressaltar que essa autonomia foi objeto do Protocolo Minsk II, assinado em fevereiro de 2015, por Alemanha, França, Rússia, Ucrânia, e por representantes das referidas repúblicas. Até mesmo durante a campanha eleitoral que elegeu Trump à presidência dos Estados Unidos, Putin foi acusado, sem provas e/ou evidências concretas, de promover hackers para invadirem computadores do Partido Democrata e influírem nos resultados do processo eleitoral democrático dos Estados Unidos. Acusação que é motivo de comissões de inquérito e continua como foco da imprensa americana correntemente.
Nesse contexto, para alguns analistas russos e americanos, nunca as relações entre os dois países estiveram num nível tão baixo. Razão pela qual, configura-se muito oportuna a publicação, em finais de 2016, do livro de Dmitri Trenin, diretor do Carnegie Endowment - escritório de Moscou, Should we fear Rússia? Situando-se entre os 20% da população russa que se estimam apoiem uma política externa mais voltada para o Ocidente, Trenin diz pretender tratar do assunto da política externa da Rússia, a partir da análise dos interesses da Rússia como esta os vê, de molde a entendê-los e, assim, definir o referencial para a formulação de novas e construtivas relações entre os dois países e entre a Rússia e o Ocidente.
Trenin estrutura a sua análise em três momentos: i) os medos que a política externa da Rússia alimenta; ii) o que pretende e realmente quer a Rússia; e iii) avaliação dos resultados da política ocidental vis-à-vis a Rússia. A partir dessa análise sugere mudanças nesta última, afirmando que existem fortes razões para cooperação do Ocidente com a Rússia em áreas selecionadas, como a não proliferação de armas de destruição em massa e a luta internacional contra o extremismo islâmico