• Matéria: Português
  • Autor: karyta9978451
  • Perguntado 4 anos atrás

A Metamorfose

Uma barata acordou um dia e viu que tinha se transformado num ser humano. Começou a mexer suas

patas e viu que só tinha quatro, que eram grandes e pesadas e de articulação difícil. Não tinha mais

antenas. Quis emitir um som de surpresa e sem querer deu um grunhido. As outras baratas fugiram

aterrorizadas para trás do móvel. Ela quis segui-las, mas não coube atrás do móvel. O seu segundo pen-

samento foi: “Que horror… Preciso acabar com essas baratas…”

Pensar, para a ex-barata, era uma novidade. Antigamente ela seguia seu instinto. Agora precisava ra-

ciocinar. Fez uma espécie de manto com a cortina da sala para cobrir sua nudez. Saiu pela casa e en-

controu um armário num quarto, e nele, roupa de baixo e um vestido. Olhou-se no espelho e achou-se

bonita. Para uma ex-barata. Maquiou-se. Todas as baratas são iguais, mas as mulheres precisam real-

çar sua personalidade. Adotou um nome: Valdirene. Mais tarde descobriu que só um nome não basta-

va. A que classe pertencia?… Tinha educação?… Referências? Conseguiu a muito custo um emprego

como faxineira. Sua experiência de barata lhe dava acesso às sujeiras mais respeitadas. Era uma boa

faxineira.

Difícil era ser gente… Precisava comprar comida e o dinheiro não chegava. As baratas se acasalam num

roçar de antenas, mas os seres humanos não. Conhecem-se, namoram, brigam, fazem as pazes, resol-

vem se casar, hesitam. Será que o dinheiro vai dar? Conseguir casa, móveis, eletrodomésticos, roupa

de cama, mesa e banho. Valdirene casou-se, teve filhos. Lutou muito, coitada. Filas no Instituto Nacio-

nal de Previdência Social. Pouco leite. O marido desempregado… finalmente acertou na loteria. Quase

quatro milhões! Entre as baratas ter ou não ter quatro milhões não faz diferença. Mas Valdirene mudou.

Empregou o dinheiro. Mudou de bairro. Comprou casa. Passou a vestir bem, a comer bem, a cuidar onde

põe o pronome. Subiu de classe. Contratou babás e entrou na Pontifícia Universidade Católica.

Valdirene acordou um dia e viu que tinha se transformado em barata. Seu penúltimo pensamento huma-

no foi: “Meu Deus!… A casa foi dedetizada há dois dias!…”. Seu último pensamento humano foi para seu

dinheiro rendendo na financeira e que o safado do marido, seu herdeiro legal, o usaria. Depois desceu

pelo pé da cama e correu para trás de um móvel. Não pensava mais em nada. Era puro instinto. Morreu

cinco minutos depois, mas foram os cinco minutos mais felizes de sua vida.

Kafka não significa nada para as baratas…

VERISSIMO, Luis Fernando. A Metamorfose. Mais Comédias para ler na escola. Objetiva, 2008.

1 - O gênero textual do texto acima é crônica, que faz parte do texto narrativo. Quais são os cinco

elementos narrativos do texto?
2 - Cite as características do gênero crônica presente no texto.

3 - A “voz textual” (tipos de narrador) pode ser classificada em três categorias, sendo elas: narrador

personagem, narrador observador e narrador onisciente. Diga qual é o tipo de narrador do texto acima

e cite um trecho que comprove sua resposta.

4 - Na crônica de Veríssimo, a barata metamorfoseia em ser humano, Valdirene, e depois volta a ser

barata, mas morre logo após isso acontecer. Por que a barata, Valdirene, estava feliz ao se tornar inseto

novamente?​

Respostas

respondido por: ruanalima794
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Resposta:

é bem complexo. pode ser que ele seja insignicante pra barata porque ele não possui valor nenhum, ou seja. é tão inferior que as baratas nem cogitam considerar ele como algo. Baseado no homem kafkiano (inspirado nas obras dele) que é um homem excluído do sistema, que ninguém da importancia e pode ser comparado a um inseto. daí elas não temerem ele. ele vale o mesmo que elas. nada

Explicação:

bons estudos

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