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Resposta:
"Arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem com toda alma, à interpretação sincera do nosso meio"
Candido Portinari
Jornal "A Manhã"; Junho, 1926.
O quadro em questão é um perfeito exemplo da série marrom também chamada "brodosquiana", fase que se inicia em 1933 - 1934 e paulatinamente vai sendo transformada até 1940; sem sobressaltos ou cisões bruscas; aliás, como de costume em toda a obra "portinaresca".
Considerando-se o mítico prestígio do artista e a imensa difusão iconográfica de sua obra, permito-me indicar que a obra aqui apresentada é representativa de um período em que obras muito conhecidas e prestigiadas foram produzidas; tais como, "O Circo", "O Futebol" e "O Morro"; esta última, hoje pertencente à coleção do MOMA-NYC.
A obra nos apresenta uma superfície dominante de tons marrom, terra e roxo, matizada com alguma luz que ilumina as três figuras femininas de porte conspícuo, caracterizadas pelo abandono das proporções e pelo alongamento das silhuetas que lhes dá um claro endereço "neoclássico", que deve ser percebido como a recuperação da tradição pictórica enunciada por Jean Cocteau que para tal cunhou o termo "rappel à l’ordre". Pinceladas espontâneas bem substituem os humildes abrigos do morro e, efeitos claro-escuro emoldurando o tema principal nos fazem sentir a paisagem e nos transmite uma sensação de quietude que contrasta com a severidade do horizonte.
A fatura pictórica dessa obra faz parte de uma fase geralmente aceita como a ruptura de Portinari para com o academismo, que também trás no seu âmago a representação da presença humana a qual se torna uma constante na obra do pintor.
Não creio que faltem obras para enriquecer a bibliografia sobre Candido Portinari; os grandes teóricos, críticos e estudiosos de arte já escreveram sobre a abrangência de sua obra ou escolheram um recorte específico.
Felizmente o debate não está encerrado. Portinari vive!
Valerio Pennacchi-Pennacchi, 2004.
Obras de Candido Portinari
Considerando-se que sua produção pode chegar a cerca de 5.000 obras, temos a oportunidade de ver neste recorte de 30 trabalhos a óleo, desenhos a crayon e grafite, gravuras sobre metal e litogravuras; uma amostragem significativa das obras do grande artista que através dos gigantescos murais sobre a evolução econômica do Brasil, no atual Palácio Capanema[9], mostra um momento dos mais significativos em sua carreira, apesar de infinitamente menos conhecidos que os painéis de “Guerra e Paz” da ONU[10]. Edifício originalmente concebido para ser a sede do MEC, testa a utilização da arquitetura funcionalista de “matriz corbuseana” no país, além de introduzir novos elementos. Foi construído (1936-1945) em um momento em que o Estado aspirava passar uma sensação de modernidade, de avanço intelectual, o que se refletiu tanto no projeto do edifício quanto no contexto histórico em que se insere.
Candinho
Falar de um dos artistas mais prestigiados do Brasil após os monumentos literários escritos por Antonio Bento (de Araujo Lima)[11] e Antonio Carlos Callado[12] é, no minimo, tautológico uma vez que esses autores já examinaram, aclararam, estudaram e observaram minuciosamente todas as suas preocupações sociais com o homem e com seu comportamento. “Candinho” as retratava sob sua ótica severa aproveitando parte da arte moderna européia (1928-1931) que pode ver, analisar e incorporar parcialmente à sua linguagem (leia-se, Escola de Paris e Retorno a Ordem), conquistando grandes admiradores no seu próprio país e no exterior. Conforme havia prometido, na Europa estudou e pesquisou muito e pintou muito pouco, sem dúvida uma forma inteligente de não submissão a um novo colonialismo patrocinado pelo Enba.
Com visão conspectiva distinguimos uma obra com primazia figurativa moderna relacionada em maior ou menor gráu com o cubismo e surrealismo. Estamos falando de “modernismo” cujo mérito foi a desconstrução dos sistemas estéticos da arte tradicional... .