b) entre outras matérias-primas, as indústrias siderúrgicas utilizam manganês e ferro para fazer o aço. Comente a posição da CSN com relação à rede de aço de transportes e a localização das jazidas no sudeste brasileiro.
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Brasil entrou no século XX com um setor produtor de ferro e aço de significado prático muito reduzido. Já a partir de 1910, ganhou corpo o debate sobre o problema siderúrgico nacional em torno de alguns projetos que vinculavam a produção siderúrgica no país com os projetos então surgidos para a exportação de minério de ferro da zona ferrífera de Minas Gerais. As dificuldades de abastecimento enfrentadas pela economia brasileira pouco depois, durante a Primeira Guerra, acentuaram a percepção da importância do problema tanto por autoridades governamentais quanto por empresários brasileiros. Esse debate foi bastante intenso e durou mais de três décadas. O problema siderúrgico só seria dado por resolvido com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941, e a construção da usina de Volta Redonda, inaugurada em 1946.
Os impasses resultantes desse debate, centrado em grandes projetos siderúrgicos vinculados à exportação de minério de ferro, e o destaque recebido por ele na historiografia, poderiam fazer crer que o problema siderúrgico permaneceu intocado ao longo de todo o período.1 Mas não foi este o caso. Enquanto se desenrolava o debate, o setor siderúrgico brasileiro foi capaz de conduzir um importante processo de desenvolvimento e já possuía, em 1941, uma dimensão bem mais significativa do que aquela com que entrara o século. O país já contava então com um bom número de empresas dedicadas à produção siderúrgica, que também já se diversificara razoavelmente ao longo do período. Enquanto em 1900, o país podia produzir apenas quantidades relativamente pequenas de ferro-gusa e de ferro maleável por processos diretos, em 1941, já produzia praticamente todo o ferro-gusa, uma grande parte do aço e uma parte não desprezível dos laminados demandados internamente.
Contudo, a historiografia sobre o setor siderúrgico brasileiro, ainda que não sem motivo, esteve fortemente marcada pela figura proeminente da CSN. E, com isso, ela absorveu boa parte do discurso que, à época, visava legitimar a criação da nova estatal, e que, por isso mesmo, depreciava o setor preexistente. Paradigmática dessa crítica contemporânea ao setor siderúrgico existente naquele momento foi a chamada "entrevista de São Lourenço", concedida por Getúlio Vargas, em abril de 1938. Então em plena campanha em favor da "grande siderurgia", ele atacava pesadamente o setor existente e afirmava, entre outras coisas, que "a nossa produção siderúrgica atual é reduzida, cara e anti-econômica [...]".2 Podemos entender que Vargas sentisse a necessidade de fazê-lo para legitimar o projeto então em discussão e que, alguns anos mais tarde, viria a ser a CSN. Menos justificável é a absorção a posteriori desse discurso, de maneira pouco mediada, pela historiografia. Isso se deu, na prática, pelo reconhecimento tácito praticamente universal pela historiografia da existência de uma superioridade absoluta da "grande siderurgia" – a siderurgia feita em grande escala, com carvão mineral – sobre a "pequena siderurgia" – a siderurgia em escala pequena ou média, realizada com carvão vegetal – que era a siderurgia existente no país antes da CSN.3 Esse era um argumento, em princípio técnico, fartamente utilizado à época nos debates. Se é certo que ele tinha fundamento, pois a produção em escala maior com carvão mineral seria efetivamente capaz de produzir a custos unitários relativamente mais baixos, ele não deixou de ser utilizado de forma instrumental pelos debatedores contemporâneos. Contudo, a mera existência de uma tecnologia relativamente superior não impediu o setor que se desenvolveu no país de ocupar o seu espaço no mercado doméstico, nas condições então vigentes.4
Assim, como teremos ocasião de observar ao longo deste artigo, embora o setor siderúrgico brasileiro anterior à criação da CSN tivesse limitações concretas e significativas, as realizações de que foi capaz nas décadas de 1920 e 1930 tampouco podem ser desprezadas.
Essa evolução setorial será o nosso objeto de estudo neste artigo, que analisará, em particular, o processo global de crescimento da produção siderúrgica, a sua composição, bem como a substituição de importações que o setor foi capaz de realizar. Nesse sentido, pretendemos dar aqui uma visão panorâmica desse processo de desenvolvimento, focando nessas dimensões agregadas e em algumas características estruturais do setor. Para tanto, faremos uso de extensivo conjunto de dados sobre o setor siderúrgico brasileiro no período,5 além de informações qualitativas, na medida do necessário.
Este artigo está organizado em mais quatro seções, além desta introdução. Na seção 2, faremos uma discussão sobre os dados disponíveis para o setor no período em estudo, suas limitações e sobre o que fizemos aqui para mitigá-las. Na seção 3, trataremos da evolução da produção do setor, incluindo o seu crescimento quantitativo, bem como a sua composição, procurando compreender certos aspectos