Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse; perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet1. Estão essas praças no Verão cobertas de pó: dá um pé-de-vento, levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos, e muito vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar quedo: anda, corre, voa; entra por esta rua, sai por aquela; já vai adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo toma, tudo cega, tudo penetra, em tudo e por tudo se mete, sem aquietar nem sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento: cai o pó, e onde o vento parou, ali fica; ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é.
VIEIRA, Antonio. Sermões de quarta-feira de cinza.Campinas: Editora da Unicamp, 2016, p. 80.
No texto barroco de Padre Antonio Vieira, a associação de termos opostos, ligados ao dinamismo e imobilidade, remetem ao
A
caráter efêmero da existência física.
B
uso prático e cotidiano das correntes aéreas.
C
conhecimento científico do movimento dos corpos.
D
ponto de vista crítico em relação à sujeira das cidades coloniais.
E
posicionamento contrário à excessiva agitação da vida nas cidades.
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infelizmente não sei
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me desculpe
maira6243728:
ent pra que responder?
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Esse gekie ta dificil dms slk
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