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Saúde coletiva e saúde pública: esses dois termos são facilmente confundidos pelo público leigo, que não consegue distinguir as diferenças sutis, porém determinantes existentes entre eles. Saúde pública diz respeito ao diagnóstico e tratamento de doenças, e a tentativa de assegurar que o indivíduo tenha, dentro da comunidade, um padrão de vida que lhe assegure a manutenção da saúde. Já o conceito de saúde coletiva surgiu para designar os novos conteúdos e projeções da disciplina que resultou do movimento sanitarista latino-americano e da corrente da reforma sanitária no Brasil.
A prática da saúde coletiva requer do profissional uma atitude que vai além da observação, diagnóstico e prescrição de tratamento ao paciente, este como indivíduo isolado. Essa atitude meramente prescritiva é, inclusive, criticada pela professora e pesquisadora da Escola de Enfermagem da USP, Rosa Maria Godoy Serpa de Fonseca. Segundo ela, ouvir o paciente é muito mais importante do que apenas prescrever remédios e procedimentos. Cabe ao profissional da saúde coletiva analisar o processo saúde-doença de uma dada coletividade, considerando o contexto social historicamente determinado em que ela se insere. Essa análise dará a ele condições de intervir na realidade, promovendo mudanças e melhorias naquela comunidade.
Essa dinâmica das mudanças a serem promovidas pelo profissional da saúde é mais um ponto de divergência entre os conceitos de saúde pública e saúde coletiva. Na saúde pública, as mudanças são localizadas e graduais, de acordo com as possibilidades do Estado. Já na saúde coletiva, as mudanças devem ser radicais, de acordo com a necessidade da comunidade, e resultantes de um embate entre Estado e sociedade.
Reiterando a diferença entre esses dois conceitos, a pesquisadora Emiko Yoshikawa Egry observa que saúde coletiva não é apenas mais um novo termo, um neologismo, como tende a pensar o público leigo, e sim uma concepção completamente diferente de saúde pública.
Emiko e Rosa Maria foram as ministrantes do IV Curso de Atualização em Saúde Coletiva. Entre os alunos, a maioria era da área de enfermagem, porém estavam presentes formandos de outros cursos, como fisioterapia, por exemplo.
�??Para ministrar um curso sobre saúde coletiva levaria no mínimo seis meses�?� afirmam as professoras. Elas explicam que esse pequeno curso funciona apenas como uma introdução ao assunto, para que os interessados tenham um vislumbre do tema. Por isso, ele dá ênfase aos aspectos filosóficos da origem dos estudos em saúde coletiva. Numa contraposição entre o idealismo e o materialismo, Rosa Maria apresenta as teorias em saúde coletiva como materialistas, já que elas encaram a sociedade exatamente como ela é e não como ela deveria ser.
Em seu livro Saúde Coletiva, de 1996, Emiko afirma que o conceito de assistência de enfermagem em saúde coletiva ainda não embasa a prática da profissão: �??nossa prática continua sendo expressivamente ancorada em referenciais positivistas�?�. Porém, com o crescente interesse dos jovens profissionais da saúde em realizar pesquisas e projetos sobre o tema, esse quadro deve logo ser revertido.
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