6. Há pouco mais de seis meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a chegada do
novo vírus que em pouco tempo se tornou uma pandemia global. Isolamento social, uso de
máscaras, quarentena... São palavras bastante ouvidas ultimamente. Com base no contexto atual,
construa um poema de 4 versos e 3 estrofes utilizando palavras que você tem escutado
atualmente.
Respostas
Resposta:
há doenças piores que as doenças.
– Fernando Pessoa
I
Há doenças que são mais que doenças,
que não apenas são à vida infensas
como oferecem algumas recompensas
que tornam mais urgente e mais difícil
o já por vezes inviável ofício
de habitar o íngreme edifício
do não-se-estar-conforme-se-devia
e administrar a frágil fantasia
de que se é o que ninguém seria
se não tivesse (insistentemente)
de convencer-se a si (e a toda gente)
que não se está (mesmo estando) doente.
II
O mundo está fora de esquadro.
Na tênue moldura da mente
as coisas não cabem direito.
A consciência oscila um pouco,
como uma cristaleira em falso.
Em torno de tudo há uma aura
que é claramente postiça.
O mundo precisa de um calço,
fina fatia de cortiça.
III
Nenhuma posição é natural.
Qualquer ordenação de pé e mão
e tronco é tão-somente parcial
e momentânea, uma constelação
tão arbitrária e pouco funcional
quanto a Ursa Maior ou o Escorpião.
Nenhuma é estritamente indispensável.
Nenhuma é realmente lenitiva.
Nenhuma é propriamente confortável.
Apenas uma é definitiva.
GAZEL
Também a verdade nos cansa,
não liberta nem salva: cansa.
É o cansaço dos que cansaram
da obrigação da esperança.
Em casos assim, a razão –
essa almanjarra de faiança
numa beira de aparador
à mercê de mão de criança –
precisa ser bem resguardada
lá onde a vista não alcança.
E coloque-se em seu lugar
coisa mais dura, de sustança,
capaz de melhor resistir
à vida e sua intemperança.
Explicação: