“Por que será que o morcego só voa de noite”
Há muito e muito tempo houve uma tremenda guerra entre as aves e o restante dos
animais que povoa as florestas, savanas e montanhas africanas.
Naquela época, o morcego, esse estranho bicho, de corpo semelhante ao do rato,
mas provido de poderosas asas, levava uma vida mansa voando de dia entre as
enormes e frondosas árvores à cata de insetos e frutas.
Uma tarde, (...) foi despertado pelos trinados aflitos de um passarinho:
- Atenção, todas as aves! Foi declarada a guerra aos quadrúpedes . Todos que têm
asas e sabem voar devem se unir na luta contra os bichos que andam no chão.
O morcego ainda estava se refazendo do susto, quando uma hiena passou correndo
e uivando aos quatro ventos:
- E agora? – perguntou a si mesmo o aparvalhado morcego. – Eu não sou uma
coisa nem outra.
Indeciso, não sabendo a quem apoiar, resolveu aguardar o resultado da luta:
- Eu é que não sou bobo. Vou me apresentar ao lado que estiver vencendo –
decidiu.
Dias depois, escondido entre as folhagens, viu um bando de animais fugindo em
carreira desabalada, perseguidos por uma multidão de aves que distribuíam bicadas
a torto e a direito. Os donos de asas estavam vencendo a batalha e, por isso, ele
voou para se juntar às tropas aladas.
Uma águia gigantesca, ao ver aquele rato com asas, perguntou:
- O que você está fazendo aqui?
- Não está vendo que sou um dos seus? Veja! – disse o morcego abrindo as asas. –
Vim o mais rápido que pude para me alistar – mentiu.
- Oh queira me desculpar – falou a desconfiada águia. – Seja bem-vindo à nossa
vitoriosa esquadrilha.
Na manhã seguinte, os animais terrestres, reforçados por uma manada de
elefantes, reiniciaram a luta e derrotaram as aves, espalhando penas para tudo
quanto era lado.
O morcego, na mesma hora, fechou as asas e foi correndo se unir ao exército
vencedor.
- Quem é você? – rosnou um leão.
- Um bicho de quatro patas como Vossa Majestade – respondeu o farsante, exibindo
os dentinhos afiados.
- E essas asas? – interrogou um dos elefantes. – Deve ser um espião. Fora daqui! –
berrou o paquiderme erguendo a poderosa tromba num gesto ameaçador.
O morcego, rejeitado pelos dois lados, não teve outra solução passou a viver
isolado de todo mundo, escondido durante o dia em cavernas e lugares escuros.
É por isso que até hoje ele só voa de noite.”
Autor: Rogério Andrade Barbosa
Retirada do livro: Histórias Africanas para contar e recontar
10. Quando o morcego decide se juntar ao grupo que acredita
estar em vantagem, não é bem recebido nem pelas aves nem
pelos bichos nem pelos animais terrestres. Complete as frases
justificando as ações dos bichos.
A águia desconfiou do morcego porque
______________________________________________.
O elefante não acreditou no morcego porque
______________________________________________.
11. O que acontece com o morcego após não ter sido aceito pelos
dois grupos (o dos animais que voam e o dos animais terrestres)?
12. Nessa história, há fatos e elementos que só existem no mundo
da ficção. Assinale-os.
a) Os animais falam.
b) Um grupo de animais declara guerra contra outro grupo.
c) Os morcegos voam à noite.
d) Há animais vivendo em florestas, savanas e montanhas.
Esse é um conto de origem africana. Observe que a história traz
elementos característicos do continente africano, como o espaço
(florestas, savanas e montanhas africanas) e os
personagens-animais típicos daquele habitat (morcego, águia,
elefante, leão). O conto também reflete uma forma popular, não
científica, de falar sobre a natureza.
13. Sobre as ações dos personagens, responda às questões.
a) Você aprova a decisão do morcego de se juntar ao grupo
que está vencendo a guerra? Por quê?
b) A águia e o elefante estavam certos em desconfiar do
morcego ou deveriam ter dado uma chance a ele? Explique
sua resposta.
c) Você considera que o morcego tomou a decisão certa ao se
afastar dos demais animais. Justifique sua resposta.
14. Para vocẽ, que imagem melhor representa a história
lida? Faça o desenho.
15. Qual é a sua opinião sobre essa história? Escreva
abaixo e justifique sua resposta.
Respostas
10. a) ...porque o morcego se parecia com um rato.
b) ...ele tinha asas e o grupo pensou que era um espião.
11. O morcego passou a sair só à noite e viver escondido em cavernas e lugares escuros.
12. Alternativas a e b têm elementos de fantasia.
13. a) A decisão do personagem é reprovável porque mostra falta de sinceridade.
b) Os líderes estavam certos, porque de fato o morcego não era sincero.
c) Ele se afastou porque não o aceitaram. Mas é possível defender que deveria ter feito isso desde o início, para tomar distância da guerra. O pacifismo é uma opção nobre e sincera.
14. Uma imagem adequada seria um morcego solitário voando contra a lua.
15. Como muitas histórias baseadas em lendas, é interessante para contar para crianças. Há também uma moral, de que a falsidade leva ao isolamento.
Os animais e as lendas
O conto apresentado no exercício é baseado em uma lenda africana, embora com certeza modifique muitos dos elementos originais, já que adota vocabulário contemporâneo. Mesmo o conceito de guerra era muito diferente para os povos do continente africano, então o conto passou por uma releitura moderna.
No Brasil também há uma tradição de recontar lendas indígenas, principalmente na literatura destinada aos mais jovens. Assim como acontece na história reproduzida no exercício, muitas vezes as lendas são recontadas com um olhar moderno.
Muitas culturas tinham a tradição dos contos com animais falantes que se comportavam como seres humanos. Tanto os índios brasileiros quanto os nativos africanos e os aborígenes australianos possuem histórias desse tipo. Na Europa, as fábulas, que existem desde a antiguidade grega, também incluem animais humanizados.
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