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Resposta:
Título: Qual é o motivo do desemprego? (Em formato de crônica)
Explicação:
É incrível como o desemprego tem se alastrado pelo nosso país como uma erva daninha; tanto é verdade que todos os políticos prometem que vão criar novos postos de trabalho para acabar com essa praga. Só acredito vendo e, mesmo assim, com severas restrições (a não ser que eles estejam falando dos empregos para os seus familiares).
Mas o problema não é só a falta de emprego. É preciso admitir que os nossos trabalhadores não oferecem serviços de qualidade. Anúncios para emprego há o bastante, é só dar uma "espiadela" nos jornais que circulam todos os dias nas capitais. O preparo do nosso trabalhador de modo geral é muito ruim e, muitas regalias são exigidas por eles, parece que todos conhecem com bravura os seus direitos e as obrigações patronais.
Por ironia do destino e por pura falta de tempo para cuidar de nossa casa — eu e minha mulher que sempre trabalhamos em órgãos públicos — fomos obrigados a contratar uma "secretária" para cuidar dos nossos filhos e dos afazeres diários. Para isso colocamos anúncios nos jornais e várias pessoas ligaram. Muitas não tinham qualquer referência. Outras diziam que não sabiam cozinhar direito e, outras, queriam que fôssemos buscá-las em suas casas. Mas duas dessas pessoas despertaram em minha mulher algum interesse por suas qualidades. Diziam saber cozinhar o trivial e que tinham algumas referências pessoais, que foram logo checadas por minha esposa. Terminada essa fase, foi marcada uma entrevista com as duas senhoras. No dia certo e hora marcada, aconteceu o encontro com as duas candidatas ao emprego.
A primeira, de nome Zeferina, era uma morena forte e bem saudável, parecia ser a pessoa perfeita para o que pretendíamos. Quando chegou, já foi logo dizendo que a casa era muito grande, que o serviço deveria ser muito e que morria de medo de cachorro e coisa e tal... Minha mulher mostrou a casa e disse qual era o serviço que deveria ser executado. Mostrou-lhe o quarto onde ela deveria ficar e, antes que minha mulher terminasse de lhe mostrar o quarto, ela disse: "é muito pequeno... a televisão não tem controle remoto... o barulho da rua vai me atrapalhar a assistir a novela das oito. Vai ser preciso colocar mais uma cama no quarto, pois de vez em quando meu filho de cinco anos tem que ficar comigo e quero um avental para cada dia da semana. Nada de avental com flores ou desenhos modernos, sou evangélica e tenho que sair uma vez por semana durante a noite para participar do culto, isso quando não tenho que ir para ao ensaio do coral da igreja. Ah, eu só venho se for para ganhar dois salários e meio".
Minha mulher indignada perguntou para a Dona Zeferina.
— Você sabe falar inglês?
— Não, não sei.
— Então não serve. Eu só almoço ouvindo música americana.
No dia seguinte, apareceu a outra concorrente. Parecia ter acabado de sair de uma festa sertaneja, trazia na cabeça um chapéu de dar inveja na dupla Zezé di Camargo e Luciano. No peito, a camiseta trazia estampado o rosto de
Che Guevara. Ela disse que ele havia sido um cantor de Rock, só que não sabia ao certo o seu nome e nem que música ele cantava ou tocava. Minha mulher perguntou-lhe o nome.
— Qual é o seu nome?
— Maria.
— Maria de quê?
— Maria das Dores.
— E o que é que a senhora sabe fazer?
— Faço de tudo um pouco.
— Tudo bem.
Minha mulher olhou para mim com cara de tristeza: "de tudo um pouco...!" Realmente, foi engraçada a reação dela. Acho que o físico não correspondia com a voz que ela havia escutado ao telefone no dia anterior (minha mulher estava cheia de esperança, achava que havia encontrado a secretária dos seus sonhos).
— Entre, por favor.
Mostramos toda a casa, dos jardins às portas do fundo, à tal Maria das Dores. Até então, ela apenas observava os detalhes (e como observava...).
— E aí? Perguntou minha mulher, desolada.
— Bem, a casa é muito grande, vou precisar de uma ajudante que saiba cozinhar e lavar. Isso sem falar que a senhora vai ter que comprar mais uma televisão porque não posso perder a novela, quero ganhar três salários e folgas nos fins de semana.
— Só isso?
— Por enquanto, só isso.
— E a senhora sabe falar inglês?
— Não, não sei.
— E a senhora sabe tocar piano?
— Não, não sei.
— Se a senhora não sabe falar inglês e nem sabe tocar piano, como é que a senhora quer ganhar três salários mínimos?
Observando esse meu microcosmo, entendi bem direitinho porque os políticos prometem tanto. Eles têm a mais límpida certeza de que os nossos trabalhadores ainda não aprenderam a tocar piano, mas dançam conforme a
música!