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Mensalmente, quando estamos elaborando nossas postagens para a categoria “Arquivos & Diversidade Étnica”, sempre refletimos sobre como abordar a temática indígena. Não porque seja uma temática por nós valorada como mais importante do que a temática negra, mas porque o APERS já possui um extenso trabalho de levantamento em seu acervo relacionado aos africanos e afrodescendentes no Rio Grande do Sul, através do Projeto Documentos da Escravidão e seus desdobramentos. Por outro lado, enquanto instituição ainda desconhecemos as potencialidades de nosso acervo no que concerne à história dos povos indígenas em nosso estado.
Nesse sentido, sempre temos vontade de abordar com mais profundidade as relações entre arquivos, história indígenas e ensino, mas ainda não temos instrumentos que nos permitam apontamentos abrangentes e eficientes sobre nossos acervos que possam ser utilizados nessa escrita. Hoje, buscando refletir sobre tal questão, sugerimos a leitura do artigo “Presença indígena na Guerra dos Farrapos: primeiras observações (c.a 1831-1851)”, do professor Eduardo Neumann, e de uma simples nota de leitura intitulada “Povos indígenas e arquivos: desafios e resultados”, de Odair Giraldin, que traz reflexão sobre a persistência necessária aos que desejam desvendar informações, produzir conhecimento e ensinar sobre este tema a partir de documentos de arquivos.
No artigo, de 2011, Neumamm registra que “apesar da documentação oficial sobre a ocupação e colonização do Rio Grande do Sul e mesmo os relatos de viajantes mencionarem a presença ameríndia, lamentavelmente, a atenção dedicada pela historiografia sul-rio-grandense às populações indígenas não corresponde á sua importância na formação dessa sociedade. Em parte por que há uma ênfase demasiada na imigração europeia ao Rio Grande do Sul, uma apologia do imigrante; por outra imperava a concepção de uma assimilação e gradual extermínio dos indígenas, como propalado em outras regiões. O certo é que, mesmo diante da renovação verificada em outras áreas da América Portuguesa, o “índio colonial” ainda é um personagem ausente na historiografia regional”. Propondo uma abordagem que recupere o papel histórico dos ameríndios em nossa sociedade, o autor afirma que cabe ao historiador enfrentar esse desafio, pois “somente assim será possível reverter o quadro ainda hoje prevalecente, marcado pela omissão ou, na melhor das hipóteses, por uma visão simpática aos índios, mas que os enquadra como vítimas de poderosos processos externos à sua realidade”. Arriscamos ir além, afirmando que para tal superação esse papel cabe ao historiador enquanto professor-pesquisador, cumprindo sua tarefa não apenas nos arquivos, centros de documentação e instituições de memória, mas na conexão entre tais locais e os espaços formais e não formais de educação.