Protesto timide
Ainda a pouco eu vinha para casa a pe Feliz da minha vida, e faltavam dez minutos para meia-noite
Perto da Praça General Owiria, olhei para o lado e vi, junto a parede da esquina, algo que me pareceu uma trouxa de roupa, um saco de lixo. Alguns passos mais e pude ver que era um menino Escurinho, de seus seis ou sete anos, não mais. Deitado de lado, braços dobrados como dois gravetos, as mos protegendo a cabeça. Tinha os gambitos também encolhidos e enfiados dentro da camisa de meia esburacada, para se defender contra o frio da noite Estava dormindo, como podia estar morto Outros, como eu, iam passando, sem tomar conhecimento de sua existencia. Não era um ser humano, era um bicho, um saco de lixo mesmo, traste inútil, abandonado sobre a calçada. Um menor abandonado
Quem nunca via um menor abandonado? A cinco passos, na casa de suco de frutas, varios casais de
jovens tomavam suco de frutas, alguns mastigavam sanduiches. Além, na esquina da praça, o carro da
radiopatrulha estacionado, dois boinas-pretas conversando do lado de fora. Ninguem tomava conhecimento da
existencia do menino
Segundo as estatisticas, como ele existem nada menos que 25 milhões no Brasil, que se pode fazer? Qual seria a reação do menino se eu o acordasse para lhe dar todo o dinheiro que trazia no bolso? Resolveria o seu problema? O problema do menor abandonado? A injustiça social?
"A injustiça não se resolve. A sombra do mundo errado
Murmuraste um protesto timido
Então vim para casa, os versos do poeta se repetindo na minha cabeça. Não sou poeta e minha prosai competência se limita a este retângulo impresso, onde me cabe escrever amenidades sobre a vida de todo d para distrair o leitor. E convenhamos que não é nada ameno como assunto um menor abandonado que pareceu a poucos passos um simples monte de lixo. Remover esse lixo? Pagar a taxa da Comlurb? Ou s melhor incinerar? Dizem os entendidos que o problema é de ordem econòmica, ou seja, mais de ordem técn
que de ordem moral. Precisamos enriquecer o pais, produzir, economizar divisas, combater a inflação, pechinchar. O Bra feito por nós. Com isso, Todos os problemas se resolverão, inclusive o do menor abandonado. Vinte e cinco Milhões de menores- um dado abstrato, que a imaginação não alcança. Um menin pai nem mãe, sem o que comer nem onde dormir: isto é um menor abandonado hoje em dia desi eufemisticamente menino de rua. Para entender, só mesmo imaginando meu filho largado no mundo ac oito, dez anos de idade, sem ter para onde ir nem para quem apelar. Imagino que ele venha a ser um des se esgueiram como ratos em torno aos botequins e lanchonetes e nos importunam cutucando-nos de leve que nos desperta mal contida irritação para nos pedir um trocado. Não temos disposição sequer para c
simplesmente o atendemos (ou não) para nos livrarmos depressa de sua incómoda presença. Com o ser
que sufocamos no coração, escreveriamos toda a obra de Dickens. Mas estamos em pleno século 20, w
era do progresso para o Brasil, conquistando um futuro melhor para os nossos filhos. Até lá, que
abandonado não chateie, isso é problema para o juizado de menores Mesmo porque são todos del
pivetes na escola do crime, cedo terminarão na cadeia ou crivados de balas pelo Esquadrão da Morte Pode ser. Mas a verdade é que hoje eu vi meu filho dormindo na rua, exposto ao frio da noite
pada ter feito por ele, ainda o confundi com um monte de lixo
ESSA CRÔNICA FOI ESCRITA EM 1° PESSOA OU EM 3° PESSOA? QUAL É A FUNÇÃO DO EMPREGO DESSE TIPO DE NARRADOR NESSA CRÔNICA?
Respostas
respondido por:
1
Resposta:
cadê a foto?
Explicação:
já cansei de falar pras pessoas que tem que colocar a foto cara meu deus
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