ALGUÉM ME AJUDA!!
Leia, com atenção, a crônica “A farsa e os farsantes”, de Carlos Heitor Cony,
publicada em Antologia de crônicas (Rio de Janeiro: Ediouro, 2005, pp. 23-24),
para responder às questões de 01 a 05.
É na hora de levantar da mesa que a garota sente a dor. Morde os beiços, solta
o grito:
− Papai!
O pai penteia a menor que vai ao colégio. Cabelos revoltos, cabeça mais
revolta ainda, é um drama manter aqueles fiapos arrumados em cima do pequenino
crânio que ele tanto ama.
− Que foi?
E antes de qualquer resposta, abre os braços para receber a filha que vem
caindo, aos pedaços, o rosto vermelho, duas lágrimas súbitas correndo, pelas gordas
bochechas:
− Minha perna!
Recebe a filha nos braços, tenta forçá-la a andar, mas o corpo dela cai para o
lado, a perna parece endurecida, como se fizesse parte de um outro organismo. Então
apela para a força e levanta-a nos braços, já há muito não a segura assim, desde que
começara a ficar mocinha. No trajeto da sala para o quarto lembra noites antigas, em
que a menina acordava e pedia colo, ele ficava a noite inteira com o pequenino corpo
nos braços, andando pelo escuro com sua preciosa carga feita de amor, medo e duas
mãozinhas que o agarravam quando tentava deitá-la outra vez na cama.
Agora, o corpo cresceu, pesa em seus braços, mas a fragilidade da menina é
a mesma.
A menor fica pelos cantos, a cara amarrada, rosnando. Numa pausa, enquanto
procura a pomada para fazer a fricção doméstica, vê a menor tirando o uniforme.
− Quê que é isso? Você não vai ao colégio?
A resposta é negativa. Se a outra não vai, ela também não vai. O pai argumenta
com a dor, a pomada cor de iodo que começa a esfregar pelos joelhos da outra, mas
a menor é sábia e vil quando insinua:
− Isso é embromação, papai! Ela não tem nada!
A vontade primeira é esfregar pomada no nariz dela. Nunca a mais velha
fingiria a esse ponto. Espinafra a menor, cita exemplos antigos e convincentes,
apanha a merendeira e a pasta, empurra-a pelo elevador, e quase se esquece de
recomendar à empregada para desculpar a falta da outra.
E a outra faz o seu papel de dor e impotência. As lágrimas secam, mas a perna
ainda dói - e ele descobre um vermelhão perto dos joelhos e teme. Olha uma velha
imagem de Santa Luzia que a mãe lhe havia dado, pensa mecanicamente em rezar,pedir proteção para aquele joelho, mas assim também não, é covardia demais, e
prefere telefonar para o médico.
Quando acaba de discar, e antes de o médico atender, a filha já se levantara
e correra ao telefone para cortar a ligação.
− Não precisa não, papai, eu já estou boa!
− O quê!
E novo pranto, desta vez mais sincero: aos soluços, a verdade é dita:
− Eu não sabia nada para a prova, papai!
Alisa os cabelos da filha, feliz já, de não ser nada. E a certeza de que a filha
não tivera nada lhe dá súbita e incontrolada ternura. Beija-a avidamente,
reencontrado em sua rotina e sossego.
− E agora?
Agora, é tratar de passar a tarde juntos, como há muito tempo não passavam.
Desencavam velhas revistas, deitam-se na cama e ficam vendo figuras, depois jogam
uma partida de batalha naval, A6, F7, D8 − água.
Acerta uma parte do cruzador. Água. Ela ganha por dois submarinos e um
pedaço de avião.
− Vamos fazer banana frita?
Enxotam as duas empregadas da cozinha e fazem, eles mesmos, a banana
frita, e comem com avidez e grandes goles de guaraná. Até que, de repente, quando
maior é a comilança, ouvem o barulho do elevador que pára no andar.
− É ela!
Pelo jeito furioso de bater a campainha, é mesmo a menor que volta do colégio.
Então, pai e filha olham-se nos olhos e correm para o quarto. Quando a outra chega,
encontra a irmã gemendo sobre a cama, e o pai, apreensivo e corrupto, abaixando o
termômetro com grandes solavancos, para ver se a febre já tinha passado.
QUESTÃO 1(PISM/UFJF) Com base na leitura do texto, É POSSÍVEL concluir
que:
a) o pai e a filha tramaram, desde o início, uma situação falsa.
b) a irmã mais nova gosta de implicar com o pai.
c) o pai percebe, imediatamente, a atitude das filhas.
d) a filha mais velha engana apenas o pai no início da história.
e) o pai e a irmã mais nova criticam a atitude da estudante
Respostas
respondido por:
1
Resposta:
b) a irmã mas nova gosta de implicar com o pai.
Perguntas similares
4 anos atrás
4 anos atrás
4 anos atrás
6 anos atrás
6 anos atrás
6 anos atrás