• Matéria: Português
  • Autor: duducunha190
  • Perguntado 4 anos atrás

Leitura e Interpretação de textoLeia a crônica de humor de Luis Fernando Veríssimo.

BRINCADEIRA

Começou como uma brincadeira. Telefonou

para um conhecido e disse:

-- Eu sei de tudo.

Depois de um silêncio, o outro disse:

-- Como é que você soube?

-- Não interessa. Sei de tudo.

-- Me faz um favor. Não espalha.

-- Vou pensar.

-- Por amor de Deus.

-- Está bem. Mas olhe lá, hein?

Descobriu que tinha poder sobre as

pessoas.

-- Sei de tudo.

-- Co-como?

-- Sei de tudo.

-- Tudo o quê?

-- Você sabe.

-- Mas é impossível. Como é que você

descobriu?

A reação das pessoas variava. Algumas

perguntavam em seguida:

-- Alguém mais sabe?

-- Outras se tornavam agressivas:

-- Está bem, você sabe. E daí?

-- Daí nada. Só queria que você soubesse

que eu sei.

-- Se você contar para alguém, eu...

-- Depende de você.

-- De mim, como?

-- Se você andar na linha, eu não conto.

-- Certo

Uma vez, parecia ter encontrado um

inocente.

-- Eu sei de tudo.

-- Tudo o quê?

-- Você sabe.

-- Não sei. O que é que você sabe?

-- Não se faça de inocente.

-- Mas eu realmente não sei.

-- Vem com essa.

-- Você não sabe de nada.

-- Ah, quer dizer que existe alguma coisa

pra saber, mas eu é que não sei o que é?

-- Não existe nada.

-- Olha que eu vou espalhar...

-- Pode espalhar que é mentira.

-- Como é que você sabe o que eu vou

espalhar?

-- Qualquer coisa que você espalhar será

mentira.

-- Está bem. Vou espalhar.

Mas dali a pouco veio um telefonema.

-- Escute. Estive pensando melhor. Não

espalha nada sobre aquilo.

-- Aquilo o quê?

-- Você sabe.

Passou a ser temido e respeitado. Volta e

meia alguém se aproximava dele e sussurrava:

-- Você contou pra alguém?

-- Ainda não.

-- Puxa. Obrigado.

Com o tempo, ganhou uma reputação. Era

de confiança. Um dia, foi procurado por um

amigo com uma oferta de emprego. O salário

era enorme.

-- Por que eu? – quis saber.

-- A posição é de muita responsabilidade –

disse o amigo. – Recomendei você.

-- Por quê?

-- Pela sua discrição.

Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo

sobre todos mas nunca abria a boca para falar

de ninguém. Além de bem-informado, um

gentleman. Até que recebeu um telefonema.

Uma voz misteriosa que disse:

-- Sei de tudo.

-- Co-como?

-- Sei de tudo.

-- Tudo o quê?

-- Você sabe.

Resolveu desaparecer. Mudou-se de

cidade. Os amigos estranharam o seu

desaparecimento repentino. Investigaram. O

que ele estaria tramando? Finalmente foi

descoberto numa praia distante. Os vizinhos

contam que uma noite vieram muitos carros e

cercaram a casa. Várias pessoas entraram na

casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam

que a voz que se ouvia era a dele, gritando:

-- Era brincadeira! Era brincadeira!

Foi descoberto de manhã, assassinado. O

crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas

que o conheciam não têm dúvidas sobre o

motivo.

EXERCÍCIOS

1. QUAL FOI O PROBLEMA QUE APARECEU NO INÍCIO DA CRÔNICA?

2. COMO O PROBLEMA INICIAL DA CRÔNICA TERMINOU AO FINAL DO TEXTO?

3. AO ANALISAR A CRÔNICA, É POSSIVEL DESCOBRIR O QUE AS PERSONAGENS REALMENTE TINHAM A ESCONDER? COMO ELAS REAGIAM AOS TELEFONEMAS?

4. A BRINCADEIRA EVOLUIU. COMO AS PESSOAS PASSARAM A VER O PROTAGONISTA DEPOIS QUE A BRINCADEIRA JA ESTAVA BASTANTE AVANÇADA?

5. VOCÊ CONSIDERA QUE A BRINCADEIRA FEITA FOI DE MAU GOSTO? JUSTIFUQUE.

GENTE PRECISA PRA HJ PFV ME AJUDEM​

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