• Matéria: Biologia
  • Autor: amandinhananda45
  • Perguntado 4 anos atrás

A orelha de Van Gogh (fragmento)

Estávamos, como de costume, à beira da ruína. Meu pai, dono de um pequeno armazém, devia a um de

seus fornecedores importante quantia. E não tinha como pagar.

Mas, se lhe faltava dinheiro, sobrava-lhe imaginação... Era um homem culto, inteligente, além de alegre.

Não concluíra os estudos [...]. Os fregueses gostavam dele, entre outras razões porque vendia fiado enão cobrava nunca. Com os fornecedores, porém, a situação era diferente. Esses enérgicos senhores

queriam seu dinheiro. O homem a quem meu pai devia no momento era conhecido como um credor

particularmente implacável.

Outro se desesperaria. Outro pensaria em fugir, em se suicidar até. Não meu pai. Otimista como sem-

pre, estava certo de que daria um jeito. Esse homem deve ter seu ponto fraco, dizia, e por aí o pegamos.

Perguntando daqui e dali, descobriu algo promissor. O credor, que na aparência era um homem rude e

insensível, tinha uma paixão secreta por Van Gogh. [...]

Meu pai retirou na biblioteca um livro sobre Van Gogh e passou o fim de semana mergulhado na leitura.

Ao cair da tarde de domingo, a porta de seu quarto se abriu e ele surgiu, triunfante:

– Achei!

Levou-me para um canto – eu, aos doze anos, era seu confidente e cúmplice – e sussurrou, os olhos

brilhando:

– A orelha de Van Gogh. A orelha nos salvará.

O que é que vocês estão cochichando aí, perguntou minha mãe, que tinha escassa tolerância para com

o que chamava de maluquices do marido. Nada, nada, respondeu meu pai, e para mim, baixinho, depois

te explico.

Depois me explicou. O caso era que o Van Gogh, num acesso de loucura, cortara a orelha e a enviara à

sua amada. A partir disso meu pai tinha elaborado um plano: procuraria o credor e diria que recebera

como herança de seu bisavô, amante da mulher por quem Van Gogh se apaixonara, a orelha mumificada

do pintor. Ofereceria tal relíquia em troca do perdão da dívida e de um crédito adicional.

– Que dizes?

Minha mãe tinha razão: ele vivia em um outro mundo, um mundo de ilusões.

[...] A questão, contudo, era outra: – E a orelha?

– A orelha? – olhou-me espantado, como se aquilo não lhe tivesse ocorrido.

Sim, eu disse, a orelha do Van Gogh, onde é que se arranja essa coisa. Ah, ele disse, quanto a isso não há

problema, a gente consegue uma no necrotério. O servente é meu amigo, faz tudo por mim.

No dia seguinte, saiu cedo. Voltou ao meio-dia, radiante, trazendo consigo um embrulho que desenro-

lou cuidadosamente. Era um frasco com formol, contendo uma coisa escura, de formato indefinido. A

orelha de Van Gogh, anunciou, triunfante.

E quem diria que não era? Mas, por via das dúvidas, ele colocou no vidro um rótulo: Van Gogh – orelha.

À tarde, fomos à casa do credor. Esperei fora, enquanto meu pai entrava. Cinco minutos depois voltou,

desconcertado, furioso mesmo: o homem não apenas recusara a proposta, como arrebatara o frasco

de meu pai e o jogara pela janela.

– Falta de respeito!

Tive de concordar, embora tal desfecho me parecesse até certo ponto inevitável. Fomos caminhando

pela rua tranquila, meu pai resmungando sempre: falta de respeito, falta de respeito. De repente parou,

olhou-me fixo:

– Era a direita ou a esquerda?

– O quê? – perguntei, sem entender.

– A orelha que o Van Gogh cortou. Era a direita ou a esquerda?

– Não sei – eu disse, já irritado com aquela história. Foi você quem leu o livro. Você é quem deve saber.Mas não sei – disse ele, desconsolado. – Confesso que não sei.

Ficamos um instante em silêncio. Uma dúvida me assaltou naquele momento, uma dúvida que eu não

ousava formular, porque sabia que a resposta poderia ser o fim da minha infância. Mas:

E a do vidro? – Perguntei. – Era a direita ou a esquerda?

Mirou-me aparvalhado.

- Sabe que não sei? – Murmurou numa voz fraca, rouca. – Não sei.

E prosseguimos, rumo à nossa casa. Se a gente olhar bem uma orelha – qualquer orelha, seja ela de Van

Gogh ou não - verá que seu desenho se assemelha ao de um labirinto. Nesse labirinto eu estava perdido.

Eu nunca mais sairia dele​As reflexões abaixo podem ajudá-lo, preencha o quadro abaixo:
Como foi a recepção do pai pelo credor?
Como foi a recepção do pai pelo credor?
Como o pai fez a proposta?
Quando o credor ouviu a proposta e viu a orelha,
que seria o pagamento da dívida, como ele com-
portou?
Qual foi o sentimento e reação essa ação provo-
cou no credor?
Como o credor descobriu que tudo era uma
armação? O que ele fez nesse momento?


amandinhananda45: me ajuda eu preciso dela hoje :(

Respostas

respondido por: juliasouzaramos103
2

Resposta:

ficou estressado

Explicação:

oi bao


amandinhananda45: cadê kk
amandinhananda45: a foto kk
amandinhananda45: :(
juliasouzaramos103: ta no perfil
juliasouzaramos103: oi denovo
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