Respostas
Resposta:
ser presa?
– Ele é rico porque roubou.
– Mas vai roubar o quê de tanta gente miserável…
Mais um dia comum na grande Curitiba. Cômico se não fosse trágico. Os intermináveis diálogos dentro dos “busões” são capazes de prender a atenção. Recentemente, uma nova linha de ônibus foi implantada na cidade. Os ligeirões percorrem o trajeto mais rápido até a Praça do Japão. Porém, o caos diário permanece, tão confuso e sério quanto o do diálogo inicial.
No primeiro dia da mudança, era possível notar o número de pessoas perdidas – dentre elas eu – que estavam tentando entender para onde ir e o que fazer. No meio dessas pessoas, surge um anjo de cabelos loiros e óculos quadrado segurando o folder que falava sobre a nova linha. Depois de alguns esclarecimentos, todos conseguem se acomodar e seguir seu destino. Eis que no primeiro tubo, incentivado pelas ações inesperadas e surpreendentes que ocorrem nos ônibus todos os dias, surge um novo diálogo na porta quatro:
– Você viu só? A gente paga passagem pra esses vagabundo andarem de graça às nossas custas!
– Ah mas fazer o que, né? Não adianta falar, tem gente que não tem educação mesmo…
Um dos jovens que furou a catraca e entrou no ônibus e logo foi se ajeitando, retruca como se estivesse falando consigo mesmo:
– Mas e aí? Os políticos roubam de nós todos os dias. Nada mais justo que não pagar a passagem.
Enquanto alguns passageiros estão totalmente desatentos às conversas paralelas, ligados em seus celulares, dei graças por estar sem bateria e atenta à tudo que acontecia ao meu redor. Os diálogos pareciam se encaixar perfeitamente num contexto que faz todo o sentido. Não chegamos ao destino, porque o ligeirão não estava fazendo jus ao nome, mas chegamos a uma conclusão: os transportes coletivos também são um tribunal de debates e enfrentamentos dos temas mais polêmicos da sociedade.
Tem dias que, mesmo após uma cansativa rotina de trabalho, vale a pena pagar para ver o que acontece.