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Novos estudos arqueológicos têm colocado à prova a visão tradicional sobre os povos indígenas do tronco linguístico Jê que habitaram entre o sul de São Paulo e o norte do Rio Grande do Sul na primeira metade do milênio passado. Escavações recentes feitas em sítios do planalto de Santa Catarina indicam que esses grupos, dos quais descendem os índios das atuais etnias Kaingang e Laklãnõ/Xokleng, eram mais do que caçadores-coletores que levavam uma vida nômade, sem local de moradia fixa e hierarquia social definida. Eles também praticavam a agricultura e podiam viver por longos períodos em casas subterrâneas, provavelmente para se proteger do frio da região. Uma linha de estudos sugere ainda que os proto-Jê, como os estudiosos denominam hoje esses povos pré-colombianos, tinham grande conhecimento do meio natural, sabiam manejar, em alguma medida, a floresta de araucária e eram capazes de moldar a paisagem local. As árvores de araucária lhes forneciam, por exemplo, uma parte importante de seu cardápio, os pinhões.
A grande interação com as paisagens das terras altas do Sul é um indício importante do antigo modo de vida dos proto-Jê, que habitavam em geral áreas do interior do país e eram adversários dos povos da família linguística tupi-guarani, mais numerosos e comumente associados às zonas litorâneas e às terras baixas das grandes planícies fluviais. Um trabalho publicado em julho de 2016 na revista científica PLOS One sobre uma grande casa subterrânea feita pelos proto-Jê ilustra algumas das hipóteses da nova abordagem. No artigo, pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e de duas universidades inglesas, de Exeter e de Reading, descrevem uma habitação com 12 camadas arqueológicas de ocupação no sítio Baggio I, em Campo Belo do Sul, no planalto catarinense.