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Pandemia, retorno da pobreza extrema e da fome ao país, injustiças, criminalização, queimadas e a boiada passando, deliberadamente, sobre os territórios, povos e biomas. Dados parciais de conflitos no campo em 2020, registrados pela CPT e divulgados agora, mostram um pouco da conjuntura agrária neste ano.
A reportagem é de Cristiane Passos, publicada por Comissão Pastoral da Terra - CPT, 11-12-2020.
Para além da conjuntura política desastrosa que acomete a todos e todas no Brasil, o ano de 2020 começou com um grande impacto mundial, uma pandemia de proporções ainda não vistas na contemporaneidade. O novo coronavírus desestruturou o modelo capitalista imposto à sociedade e desgastou, ainda mais, os países que vêem atualmente sua democracia fragilizada.
Para os povos do campo, das águas e das florestas, colocados à parte desde o início desse governo genocida, este ano foi mais um desafio dentre os tantos que enfrentam, contornado com os princípios que sua ancestralidade e cuidado com a casa comum sempre os ensinaram: somos todos um e a terra, se bem cuidada, proverá. Dessa forma, veio do campo a maior demonstração de solidariedade e altruísmo frente aos desafios do coronavírus.
Sendo assim, em 2020 o Centro de Documentação da CPT - Dom Tomás Balduino registrou diversas doações como Manifestações de Luta, entendendo que essas foram uma forma de resistência, relacionadas a reivindicações históricas, como reforma agrária, soberania alimentar entre outras. Essas novas formas de manifestações, baseadas na solidariedade, por meio da doação de alimentos, refeições e itens de higiene, em ações coordenadas principalmente pelos movimentos e organizações sociais camponesas, também contou, muitas vezes, com o apoio de sindicatos e federações.
O Centro de Documentação registrou até o final de novembro 181 ações do tipo, somando 823,39 toneladas de alimentos doados. Os estados que mais fizeram ações de doação de alimentos foram Alagoas (28), Paraná (24), Rio Grande do Sul (24), Pernambuco (22) e Santa Catarina (18). Nessas ações, o Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST) esteve presente em 110, a CPT em 40 e o Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB) em 14.
(Fonte: CEDOC/CPT)
Com aval do governo, a boiada e o fogo passaram pelos biomas
Além da pandemia, que já apontava como este ano seria desastroso em várias dimensões, no Brasil, ainda tivemos que lidar com outros problemas também devastadores. Vimos nossos biomas serem consumidos pelas chamas, enquanto os órgãos reguladores do meio ambiente eram desmontados. O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, sorrindo, assistia a tudo enquanto “deixava a boiada passar”. Metáfora muito apropriada à liberação da prática de crimes em toda a extensão natural brasileira.
O ano ainda nem acabou e o número de focos de calor na Amazônia já superou o alcançado em todo ano de 2019. Até o dia 22 de outubro, foram registrados 89.602 focos de calor no bioma, ultrapassando os 89.176 do ano anterior, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). No Cerrado foram cerca de 56 mil focos de incêndio no mesmo período. Vimos o Pantanal, um dos maiores santuários ecológicos do país, com rica fauna e flora, ser engolido pelo fogo. Voluntários e voluntárias, pessoas indignadas com a situação, corriam contra o tempo tentando salvar o que restava e os animais feridos.
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