De que forma as pessoas que vivem na Africa foram afetadas pela pandemia?
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Os primeiros casos de contaminação por covid-19 no continente africano foram oficialmente registrados no final de fevereiro e início de março na cidade de Lagos, na Nigéria, e em Dacar, capital do Senegal, ambas localizadas na África Subsaariana, onde estão 47 dos 54 países africanos. Até o final da semana passada, 99.062 pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus em todo o continente, sendo que a África Subsaariana é o epicentro da epidemia até o momento, com mais de 66 mil casos e mais de 1.500 mortes, enquanto a África do Norte, também conhecida como África Setentrional, registra 31.232 casos e 1.522 óbitos, informa o economista Raphael Bicudo à IHU On-Line.
Desde os anos 2000, Bicudo estuda o desenvolvimento econômico da África Subsaariana e diz que o alastramento da pandemia na região é visto com grande preocupação por causa do quadro social e do precário sistema de saúde da maioria dos países. “A maior parte dos países da África Subsaariana se depara com sistemas de saúde globalmente precários e de baixa capilaridade espacial. Mais da metade da população não tem acesso a serviços de saúde, em função da precariedade dos estabelecimentos e dos equipamentos, carência de material e remédios, falta de leitos e de Unidades de Terapia Intensiva – UTI, dificuldades de acesso etc.” Em Gâmbia, um pequeno país da África Subsaariana onde vivem aproximadamente 2,28 milhões de pessoas, menciona, “não existem UTIs. A necessidade ultrapassa 1.000 unidades. A Somália conta apenas com 15 leitos de UTI para quase 15 milhões de pessoas, situação semelhante ao caso do Malaui, que conta com 25 unidades de terapia intensiva para 17 milhões, e Uganda com 55 UTIs para mais de 40 milhões de pessoas”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o economista menciona que o crescimento econômico do continente africano nas duas últimas décadas, oriundo fundamentalmente da exportação de recursos naturais para a China, “não gerou uma melhora do quadro social”, impossibilitando a superação da pobreza intergeracional, e 76% dos empregos nos países da África Subsaariana são informais. Esse quadro, ressalta, dificulta a adesão da população a medidas como o distanciamento social. “Milhões de adultos e crianças só possuem essa forma de sobrevivência e isso depende das ruas, dificultando o isolamento social – uma das principais formas de evitar o contágio”. Além disso, pontua, “em Nairóbi, capital do Quênia, existem favelas (chamadas de Mukuru), onde meio milhão de pessoas vivem em condições muito precárias. A maior parte das casas são feitas de papelão ou plástico, inexiste ventilação ou algum tipo de drenagem, não há coleta de resíduos, facilitando a proliferação de doenças. Como separar as pessoas em caso de infecção? Em grande parte da região, não existe esta possibilidade”.
Raphael Bicudo lembra ainda que em muitos países africanos faltam os elementos básicos para enfrentar a pandemia, como água e sabão para lavar as mãos. “63% da população da região que vivem em áreas urbanas (258 milhões de pessoas) não têm acesso à possibilidade de lavar as mãos. O acesso à água nos países da África Subsaariana é extremamente difícil nas áreas urbanas e principalmente nas áreas rurais. Mais de 30% de todas as pessoas nos países da África Ocidental e Central não possuem acesso à água potável”.
Segundo ele, tanto o desemprego quanto a retração das atividades informais poderão gerar consequências ainda mais drásticas pós-pandemia, levando milhões de africanos para a situação de pobreza extrema, “aumentando ainda mais o contingente que já é de mais de 400 milhões”. Na entrevista, Bicudo também reflete sobre como a pandemia de covid-19 pode agravar o enfrentamento de outras doenças que afligem a África, como o HIV, que atinge mais de dois milhões de crianças de zero a 14 anos.