Lanchinho de avião
Drauzio Varella
A comissária de bordo pede para afivelarmos os cintos e desligarmos os celulares. O comandante avisa que a decolagem foi autorizada, a aeronave ganha velocidade na pista e levanta voo. Pela janela, São Paulo vira um paliteiro de prédios espetados um ao lado do outro. Um pouco mais à frente, a periferia inchada, com ruas tortuosas e casas sem reboque, abraça o centro da cidade como se fosse esganá-lo.
Em poucos minutos, ouve-se um som agudo, sinal de que os computadores podem ser ligados. Junto à porta de entrada, as comissárias se levantam e preparam o carrinho de lanches. De fileira em fileira, perguntam o que cada passageiro deseja beber. No carrinho, acotovelam-se latas de refrigerantes, a garrafa de café e uma infinidade de pacotes de sucos mais doces do que o sorriso da mulher amada. O rapaz à minha direita prefere suco de manga; o da esquerda quer um de pêssego. Agradeço, não quero nada. A moça estranha: “Nada, mesmo?”.
Em seguida, ela nos estende a mão que oferece um objeto ameaçador, embrulhado em papel branco. Em seu interior, um pão adocicado cortado ao meio abriga uma fatia de queijo e outra retirada do peito de um peru improvável. No reflexo, encolho as pernas. Se, porventura, um embrulho daqueles lhe escapa da mão e cai em meu pé, adeus carreira de maratonista. [...]
O comandante informa que, em Belo Horizonte, o tempo é bom e que nosso voo terá duração de 40 minutos. São dez e meia, é pouco provável que os circunstantes tenham saído de casa em jejum. O que os leva a devorar no meio da manhã calorias adicionais, com gosto de isopor? Qual é o sentido de servir comida em voos de 40 minutos?
Cerca de dos brasileiros com mais de 18 anos sofrem com o excesso de peso, taxa que nove anos atrás era de Já caíram na faixa da obesidade de nossos conterrâneos. Os que visitam os Estados Unidos ficam chocados com o padrão e a prevalência da obesidade. Lá, a dieta e a profusão de alimentos consumidos até em elevadores conseguiram a proeza de engordar todo mundo; não escapam japoneses, vietnamitas nem indianos.
As silhuetas de mulheres e homens com mais de quilos pelas ruas e shopping centers deixam claro que existe algo profundamente errado com os hábitos alimentares do país. Nossos números mostram que caminhamos na esteira deles. Chegaremos lá, é questão de tempo; pouco tempo.
A possibilidade de ganharmos a vida, sentados na frente do computador, as comodidades da rotina diária e a oferta generosa de bebidas e alimentos industrializados repletos de gorduras e açúcares que nos oferecem a toda hora criaram uma combinação perversa que conspira para o acúmulo de gordura no corpo.
Os que incorporaram as calorias em excesso no caminho para Belo Horizonte só o fizeram porque o lanche lhes foi servido. Milhões de anos de evolução, num mundo com baixa disponibilidade de recursos, ensinaram o corpo humano a comer a maior quantidade disponível a cada refeição, única forma de sobreviver aos dias de jejum que fatalmente viriam.
Engendrado em tempos de miséria, o cérebro humano está mal adaptado à fartura. A saciedade à mesa só se instala depois de ingerirmos muito mais calorias do que as necessárias para cobrir os gastos daquele dia. A seleção natural nos ensinou a não desperdiçá-las, o excesso será armazenado sob a forma de gordura.
O tecido gorduroso não é um reservatório inerte, produz hormônios, libera mediadores químicos que interferem com o metabolismo e o equilíbrio entre fome e saciedade. E, o mais grave, dá origem a um processo inflamatório crônico que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, vários tipos de câncer e de outros males que infernizam e encurtam a vida moderna.
Por essas e outras razões, caríssimo leitor, é preciso olhar para a comida como fazemos com a bebida: é bom, mas em excesso faz mal.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 05 set. 2015. (Adaptado).
Em relação ao gênero, o texto “Lanchinho de avião” deve ser classificado como:
A) uma carta, porque há uma interlocução direta com o leitor, provocando relação de proximidade com o autor.
B)uma crônica, porque retrata com humor um fato banal, convidando o leitor a uma reflexão descomprometida.
C)um artigo, porque expõe a análise e o ponto de vista do enunciador, abordando um tema de relevância social.
D)um relato, porque conta um episódio marcante na vida do narrador, apresentando os fatos em ordem cronológica.
Respostas
Resposta:
minhas alternativas estao diferentes:
Explicação:
QUAL A RESPOSTA ?????
Houve emprego de sujeito desinencial em:
Alternativas
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A
Em poucos minutos, ouve-se um som agudo, sinal de que os computadores podem ser ligados.
B
Cerca de 52% dos brasileiros com mais de 18 anos sofrem com o excesso de peso, taxa que nove anos atrás era de 43%.
C
No carrinho, acotovelam-se latas de refrigerantes, a garrafa de café e uma infinidade de pacotes de sucos mais doces do que o sorriso da mulher amada.
D
A possibilidade de ganharmos a vida, sentados na frente do computador, as comodidades da rotina diária e a oferta generosa de bebidas e alimentos industrializados repletos de gorduras e açúcares que nos oferecem a toda hora criaram uma combinação perversa que conspira para o acúmulo de gordura no corpo.
O texto "Lanchinho de avião" feito por Drauzio Varella tem como objetivo expor o seu ponto de vista e fazer com que os leitores entendam uma nova perspectiva acerca dos lanches que podem causar doenças, caso sejam consumidos exageradamente. Portanto, o item C está certo.
Este texto se trata de um artigo feito pelo doutor, que infere que muitos lanches e outros tipos de comidas quando ingeridos em um curto espaço de tempo geram muita gordura acumulada nas pessoas.
Com este artigo de opinião, ele espera que a sociedade compreenda que comer faz bem, no entanto, tudo depende da quantidade e da qualidade do alimento.
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