Tiago Germano
No terceiro mês do catecismo, o padre nos deu a chance esperada: depois de doze semanas de aulas e de leituras bíblicas, tão pouco frequentadas quanto pouco entendidas, podíamos perguntar o que quiséssemos.
Fui o primeiro a erguer o braço. O padre, encanecido, pediu que eu me levantasse. Com a coragem que hoje, nos eventos de que participo, procuro, mas não acho, arranquei do fundo da alma a dúvida atordoante: “Padre, o Papa vai ao banheiro?”
A morte de João Paulo II, em meio à comoção mundial gerada pelo seu funeral, em 2005, me trouxe de volta essa lembrança distante. Junto com ela, o medo que eu sentia na infância daquele homem, do quadro que minha avó conservava pendurado ao lado da imagem de Jesus.
Eu não sabia a diferença entre Jesus e Deus. Minha avó tentou me explicar que Jesus não era Deus, mas que também podia ser. Que foi humano por 33 anos, mas que depois que morreu virou uma pomba. Nesse dia, descobri que o Papa tinha um papamóvel (o que fazia dele quase um herói de história em quadrinho) e que, se o Papa comia, ele também tinha que ir obrigatoriamente ao banheiro. A minha avó só não conseguiu me esclarecer por que João Paulo II lia os discursos tão devagar, como se não tivesse passado da alfabetização, ele que, segundo ela, era um dos homens mais inteligentes do mundo, sabia todas as línguas faladas por todos os povos. Na verdade, continuei com um medo brutal do Papa. Todos choravam quando se aproximavam dele.
Nunca imaginei, por exemplo, o Papa jovem, até que vi uma foto dele um pouco mais novo do que eu era naquela época. Careca, como sempre. Branco, como sempre. Mas humano, sem a aura de santidade que tanto me assombrava. Décadas depois, quando o vi ali, morto, estendido aos olhos da multidão, compreendi que a humanidade do Papa estava muito além das minhas cogitações infantis.
Ainda hoje me pego imaginando o Papa no banheiro, as vestes santas despidas do corpo enorme, e rio o riso proibido do catecismo. A última imagem que guardarei do Papa João Paulo II, o único e verdadeiro Papa da minha geração, é a de sua dor, que o igualou a cada ser humano neste planeta. Uma dor como a de Jesus, que era humano mas que também era Deus. E que talvez também fosse ao banheiro, mas só de vez em quando.
Demônios domésticos. [S. l.]: Le Chien, 2017.
QUESTÕES:
1 – Após a leitura do texto você mudou o seu pensamento sobre o assunto que seria abordado nele? Explique.
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2 – Você gostou do texto?
( ) sim. ( ) não.
a) Você se surpreendeu, ou se emocionou, ficou com raiva, ... qual sentimento ele despertou em você? Por quê?
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3– Você já viveu uma situação como a descrita na crônica? Ou conhece outra pessoa que vivenciou algo parecido? Fale um pouco sobre o fato acontecido com você ou com outra pessoa.
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4– No texto, há algo que ficou difícil de entender? O quê?
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5 – Cite um trecho curioso da crônica?
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6– Você consegue identificar no texto os momentos em que o autor utilizou humor? Escreva o trecho que comprova sua resposta.
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7– Quais são os personagens que aparecem na história? O autor se faz presente? Sua história compõe parte da crônica? Destaque os trechos que apontam isso.
Respostas
respondido por:
1
Resposta:
j jvuvuvuvuguh8h9hohg8gig8g6dufudufufuviguf7giv7gr7gitkfob
joakaa1ueba:
a mano na moral vcs podia responder os baguiu certo
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