• Matéria: Português
  • Autor: hevelynmirella83
  • Perguntado 4 anos atrás

A mulher entrou no meu escritório com um sorriso muito amável e olhos muito azuis. Desenrolou

um mapa e começou a falar com uma certa velocidade, como é uso dos chilenos. Gosto de ver mapas, e

me ergui para olhar aquele.

Quando percebi que se tratava de um loteamento, e a mulher queria me vender uma parcela, me

coloquei na defensiva; disse que no momento suspendi meus negócios imobiliários, e até estava

pensando em vender meus imensos territórios no Brasil; que além disso o Chile é um país muito estreito

e sua terra deveria ser dividida entre seu povo; até ficaria mal a um estrangeiro querer especular com

um trecho da faja angosta, que é como os chilenos chamam sua tira estreita de terra, que por sinal

costumam dizer que é “larguíssima”, para assombro do brasileiro recém-chegado, que não sabe que isso

em castelhano quer dizer “compridíssima”.

Os olhos azuis fixaram-se nos meus, a mão extraiu de uma pasta a fotografia de um terreno

plantado de pinheirinhos de dois ou três anos: não se tratava de especulação imobiliária; dentro de

poucos anos eu seria um madeireiro, poderia cortar meus pinheiros... Ponderei que tenho uma pena

imensa de cortar árvores.

─ A senhora não tem? Também tinha. E então baixou a voz, sombreou os olhos de poesia, e me

disse que ela mesma, corretora, também comprara duas parcelas naquele terreno. E tinha certeza ─

confessava ─ que também não tinha coragem de mandar cortar seus pinheiros; também adorava

árvores e passarinhos, cortaria apenas os pinheiros necessários para fazer uma casinha de madeira: o

lugar é lindo, em um pequeno planalto, dá para uns penedos junto ao mar; as árvores choram e cantam

com as ondas quando sopra o vento do oceano... Confesso que paguei a primeira prestação: ela passou

o recibo, sorriu, me disse muchas gracias e hasta lueguito e partiu com seus olhos azuis, me deixando

meio tonto, com a vaga impressão de ter comprado um pedaço do Oceano Pacífico.

BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1987

1. No início da crônica, o narrador caracteriza a personagem “corretora do mar”. Destaque do texto em

que omento isso surge na crônica.​

Respostas

respondido por: limamichael065
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Resposta:

que omento isso surge na crônica

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