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O Poço para iniciar a fábula sádica que é o filme. Em tempos que vivemos um distanciamento social, não só por diferenças políticas, mas também pela já conhecida estrutura socioeconômica que afasta cada vez mais a população de um país que batalha por mais igualdade, é de se parabenizar a Netflix por nos dar acesso a uma obra que retrata, de maneira abstrata, nosso mundo de uma maneira tão assustadora quanto atual.
Situado dentro de uma prisão vertical conhecida como O Poço, o longa é protagonizado por Goreng (Ivan Massagué, brilhante no papel), um homem que faz por conta própria a escolha de ir para o local com o intuito de parar de fumar. Lá dentro, ele conhece o velho Trimagasi (Zorion Eguileor), seu “companheiro de cela”. Há meses na prisão, o ancião explica para o jovem como funciona o dia a dia: não há contato com a luz do sol e nem tempo para esticar as pernas e se exercitar do lado de fora. A única ação que ambos têm durante todo o tempo é esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo entre os andares todos os dias. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48 do Poço, eles precisam aguardar que os dois presos em cada um dos 47 níveis acima se alimentem até que os restos cheguem ao seu andar.
1917
O enredo do filme é bastante simples: em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, Blake e Schofield, dois soldados britânicos, iniciaram a missão de transmitir uma mensagem aos seus aliados. Há uma armadilha preparada pelos alemães, e se eles não conseguirem viajar a distância absurda no tempo, milhares de soldados morrerão - incluindo o irmão de Blake. Acontece que, para chegar ao seu destino final, os dois amigos precisam cruzar zonas inimigas, enfrentando perigos diferentes que prometem testá-los o tempo todo.
Mas o que faz 1917 se destacar entre os inúmeros filmes de guerra? Começa com o fato de que, embora se passe na Primeira Guerra, sua história é menos sobre a guerra e mais sobre uma missão que precisa ser cumprida. O filme não tenta seguir uma vibe documental, tentando ensinar o que foi a Primeira Guerra.
O filme segue em ritmo intenso, e mesmo nos momentos de calma há uma tensão no ar, fazendo com que o filme não apareça demorado ou demorado, mesmo que na maioria das cenas vejamos apenas os protagonistas se movendo pelo terreno, isso não é uma coisa simplista ou chata. As sequências de ação são muito boas, aproveitando a limitação que o plano da sequência provoca - afinal, só vemos o que está ao alcance dos protagonistas - o filme entrega eletrizante, precisamente porque não temos total clareza sobre o que está acontecendo ao redor dos soldados. Tensão e ação se juntam de uma forma quase sufocante, e eu digo isso da melhor maneira possível, proporcionando uma experiência que realmente é de tirar o fôlego.
Porém, embora goste muito da ação, para mim 1917 se destaca em momentos dramáticos. A dor e a emoção dos protagonistas são muito bem trabalhadas, mesmo que não haja muito tempo para eles vivenciarem essas sensações. Em vários momentos acompanhamos os personagens precisando engolir tudo de ruim que acontece ao seu redor para seguir em frente, às vezes movidos quase por instinto e senso de dever, afinal o tempo é curto...
Eu estaria mentindo se dissesse que não gostaria que mais momentos dramáticos fossem explorados. Eu entendo os motivos que, como eu disse, acaba sufocando, e no filme funciona muito bem, mas esse talvez seja um dos grandes problemas em contar uma história tão boa em plano de sequência. Assim como os personagens, você não tem muito tempo para digerir o que está acontecendo, sendo arrastado para a história que está sempre avançando. Embora isso reforce a ideia de imersão no que está acontecendo, eu adoraria ter pelo menos alguns minutos para explorar meus sentimentos e emoções com os personagens.
Por conta desse avanço constante, a própria história dos meninos não é explorada em profundidade e precisamos ir colocando as peças que nos são dadas - nem sempre de forma clara ou direta - para construir sua história.