(UnB-DF)
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
DIAS, Gonçalves. In: Poesia. Rio de Janeiro, Agir, 1969, pp.11-12.
Canto de regresso à pátria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
ANDRADE, Oswald de. In: Trechos escolhidos. Rio de Janeiro, Agir, 1967, p.30.
Em 1997, comemoram-se os trinta anos do movimento cultural brasileiro conhecido como Tropicalismo. Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros líderes da Tropicália apresentaram, em suas letras poéticas, novas formas de relação entre o artista e sua terra, mas voltaram, várias vezes, à “Canção do exílio” e ao “Canto de regresso à pátria” para compor seus textos. Eis alguns exemplos:
I. Gilberto Gil e Capinam, em SOY LOCO POR TI, AMÉRICA: “Um poema ainda existe / com palmeiras, com trincheiras / canções de guerra, quem sabe / canções de mar...”
II. Gilberto Gil e Torquato Neto, em MARGINÁLIA II: “Minha terra tem palmeiras onde sopra o vento forte / da fome, do medo e, muito principalmente, da morte.”
III. Caetano Veloso, em AVARANDADO: “Cada palmeira da estrada / tem uma moça recortada / cada palma enluarada / tem de estar quieta parada / qualquer canção, quase nada / vai fazer o sol levantar / vai fazer o dia nascer...”
A partir da associação dos fragmentos anteriores aos poemas de Gonçalves Dias e de Oswald de Andrade, julgue os seguintes itens.
( ) O fragmento I apresenta uma imagem dessacralizada da palmeira, destacada pela aproximação sonora com o vocábulo trincheira, evidenciando que o lirismo romântico não é compatível com a realidade sociocultural dos anos sessenta.
( ) Confrontando a primeira estrofe da canção de Gonçalves Dias com o fragmento II, nota-se neste último, uma vigorosa crítica social, fundada no recurso estilístico da intertextualidade.
( ) A ironia diante da situação política nacional, destacada no “canto de regresso à pátria”, reaparece, anos mais tarde, em Avarandado (fragmento III).
( ) A paisagem noturna e a esperança de um futuro mais promissor, presentes na “Canção do exílio”, são aspectos tematizados no fragmento III.
( ) A utilização de imagens telúricas (por exemplo: terra, céu, mar, natureza vegetal e animal) é recorrente nos dois poemas e nos três fragmentos das letras das canções do Tropicalismo.
Respostas
Resposta:
V-V-F-V-V
A partir da associação dos fragmentos anteriores aos poemas de Gonçalves Dias e de Oswald de Andrade, julgue os seguintes itens.
( V ) O fragmento I apresenta uma imagem dessacralizada da palmeira, destacada pela aproximação sonora com o vocábulo trincheira, evidenciando que o lirismo romântico não é compatível com a realidade sociocultural dos anos sessenta.
( V ) Confrontando a primeira estrofe da canção de Gonçalves Dias com o fragmento II, nota-se neste último, uma vigorosa crítica social, fundada no recurso estilístico da intertextualidade.
( F ) A ironia diante da situação política nacional, destacada no “canto de regresso à pátria”, reaparece, anos mais tarde, em Avarandado (fragmento III).
( V ) A paisagem noturna e a esperança de um futuro mais promissor, presentes na “Canção do exílio”, são aspectos tematizados no fragmento III.
( V ) A utilização de imagens telúricas (por exemplo: terra, céu, mar, natureza vegetal e animal) é recorrente nos dois poemas e nos três fragmentos das letras das canções do Tropicalismo.