Leia o trecho a seguir:
Era justo que chamasse a máquina de Benedita, destinada à intimidade da casa, esquecida na
existência oculta de uma empregada que ele, por conta própria, nas horas de descanso, ensinara
a ler. Talvez sua vocação maior fosse mesmo a de professor. Quando ela começara a trabalhar
com ele, depois de comprá- -la em um leilão e logo alforriá-la e contratá-la, gastara várias noites,
à luz de velas, apresentando-lhe as palavras. (SANCHES NETO, M. A máquina de madeira. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.139.)
A partir da leitura desse trecho, responda aos itens a seguir.
a) Há ironia na associação entre a máquina e Benedita, a empregada? Justifique, situando o
trecho no romance.
b) O trecho faz referência à “vocação” de professor. Discorra sobre os destaques atribuídos, no
romance, às vocações e ocupações do protagonista: de padre, de professor e de inventor.
Respostas
Resposta:
A) A associação entre a máquina de escrever e a empregada é parte da ironia que surge em vários níveis, no romance.
As dificuldades enfrentadas pelo protagonista em produzir seu invento, uma máquina de escrever, em escala industrial, estão ligadas a um modelo de sociedade cuja base é a produção de objetos que desempenham funções práticas no mundo do trabalho. Nesse sentido, parece óbvio ao Padre Azevedo que sua invenção não tem lugar nesse mundo masculino e que, portanto, deveria levar o nome de uma mulher. Em um primeiro momento, quando ainda tem esperança de ganhar o patrocínio da corte, pensa em chamar a máquina de Isabel, em homenagem à princesa. Como isso não ocorre, o nome Benedita – da escrava que fora alforriada e alfabetizada por ele – se torna
o mais adequado. A ironia é bastante profunda, visto que o objeto, já ao ser associado ao universo feminino – ainda que ao ambiente da corte –, é tido como algo inútil. Contudo, quando a associação se dá com a escrava alforriada, o grau de marginalização sofrido pela máquina é muito maior. Note-se que, de princesa, ela passa a ex-escrava,
aquela que está “destinada à intimidade da casa” e cuja “existência oculta” não provoca interesse em mais ninguém, além de seu criador.
B) O protagonista de A máquina de madeira, Padre Azevedo, desempenha três funções no romance. Curiosamente, a função de padre, que é o modo como é tratado ao longo de todo o texto, aparece muito pouco. Quase não se vê a personagem em tarefas ligadas à religião. Esta é vista por ele como mais uma atividade que desempenha, mas não é a principal. A função de professor aparece em vários momentos, como nesse trecho, em que ele fala sobre a alfabetização de Benedita. Contudo, é certamente a ocupação de inventor que ganha maior destaque.
Desde o início, o Padre Azevedo se dedica ao aprimoramento e à divulgação de seu invento de maior importância, a máquina de escrever.
Explicação:
É isso.
A) De acordo com as informações do texto, é possível afirmar que existe uma certa ironia, associando a máquina de escrever e a empregada da casa.
Neste romance, são enfrentadas algumas dificuldades pelo protagonista, para produzir uma certa invenção.
A ironia está estabelecida no fato de que a máquina exerce algumas funções, e a mulher também, naquele período. A empregada naqueles tempos era enxergada como parte da corte real, como um objeto.
B) A "vocação" do protagonista era a de papel de padre, professor e inventor.
O lado "religioso" do protagonista é pouco revelado. Apesar de que ele faz algumas tarefas ligadas como padre.
A função de educador é apresentada a todo instante, pois ele tem vocação para ensinar.
A vocação de inventor vem do fato do protagonista querer criar uma máquina.
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