CRÔNICA: VÓ CAIU NA PISCINA –
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
NARRADOR ONISCIENTE- Noite na casa da serra, a luz apagou. Entra
o garoto:
FILHO – Pai, vó caiu na piscina.
PAI– Tudo bem, filho.
NARRADOR- O garoto insiste:
FILHO– Escutou o que eu falei, pai?
PAI– Escutei, e daí? Tudo bem.
FILHO – Cê não vai lá?
PAI – Não estou com vontade de cair na piscina.
FILHO - Mas ela tá lá...
FILHO– Eu sei, você já me contou. Agora deixe seu pai fumar um cigarrinho
descansado.
FILHO – Tá escuro, pai.
PAI– Assim até é melhor. Eu gosto de fumar no escuro. Daqui a pouco a luz volta.
Se não voltar, dá no mesmo. Pede à sua mãe pra acender a vela na sala. Eu fico aqui
mesmo, sossegado.
FILHO– Pai...
PAI– Meu filho, vá dormir. É melhor você deitar logo. Amanhã cedinho a gente volta
pro Rio, e você custa a acordar. Não quero atrasar a descida por sua causa.
FILHO – Vó tá com uma vela.
PAI – Pois então? Tudo bem. Depois ela acende.
FILHO – Já tá acesa.
PAI – Se está acesa, não tem problema. Quando ela sair da piscina, pega a vela e
volta direitinho pra casa. Não vai errar o caminho, a distância é pequena, você sabe
muito
bem que sua avó não precisa de guia.
FILHO– Por quê cê não acredita no que eu digo?
PAI – Como não acredito? Acredito sim.
FILHO– Cê não tá acreditando.
PAI – Você falou que a sua avó caiu na piscina, eu acreditei e disse: tudo bem. Que
é que você queria que eu dissesse?
FILHO – Não, pai, cê não acreditou ni mim.
PAI – Ah, você está me enchendo. Vamos acabar com isso. Eu acreditei. Quantas
vezes você quer que eu diga isso? Ou você acha que estou dizendo que acreditei mas
estou mentindo? Fique sabendo que seu pai não gosta de mentir.
FILHO – Não te chamei de mentiroso.
PAI– Não chamou, mas está duvidando de mim. Bem, não vamos discutir por causa
de uma bobagem. Sua avó caiu na piscina, e daí? É um direito dela. Não tem nada de
extraordinário cair na piscina. Eu só não caio porque estou meio resfriado.
FILHO– Ô, pai, cê é de morte!
NARRADOR: O garoto sai, desolado. Aquele velho não compreende mesmo nada.
Daí a pouco chega a mãe:
MÃE – Eduardo, você sabe que dona Marieta caiu na piscina?
PAI – Até você Fátima? Não chega o Nelsinho vir com essa ladainha?
MÃE– Eduardo, está escuro que nem breu, sua mãe tropeçou, escorregou e foi
parar dentro da piscina, ouviu? Está com a vela acesa na mão, pedindo para que tirem
ela de lá, Eduardo! Não pode sair sozinha, está com a roupa encharcada, pesando
muito, e se você não for depressa, ela vai tem uma coisa! Ela morre, Eduardo!
PAI – Como? Por que aquele diabo não me disse isto? Ele falou apenas que ela
tinha caído na piscina, não explicou que ela tinha tropeçado, escorregado e caído!
NARRADOR: Saiu correndo, nem esperou a vela, tropeçou, quase que ia parar
também dentro d’água.
PAI– Mamãe, me desculpe! O menino não me disse nada direito. Falou que a
senhora caiu na piscina. Eu pensei que a senhora estava se banhando.
AVÓ – Está bem, Eduardo...
NARRADOR: Disse dona Marieta, safando-se da água pela mão do filho, e sempre
empunhando a vela que conseguira manter acesa.
AVÓ – Mas de outra vez você vai prestar mais atenção no sentido dos verbos,
ouviu? Nelsinho falou direito, você é que teve um acesso de burrice, meu filho!
ANDRADE, Carlos Drummond de. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987.
perguntas:
FINAL DA HISTÓRIA: COMO TUDO TERMINOU?
Lukas9609:
tambem caiu sobre cronica para mim
Respostas
respondido por:
2
Resposta:
sim, pois é fácil cortar tomate com tesouras
Explicação:
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