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Resposta:
Na Doutrina da Virtude, Kant cumpre a promessa que havia feito na Fundamentação da Metafísica dos Costumes e desenvolve o rol dos deveres consigo mesmo e dos deveres com os outros seres humanos. Aqueles, afirma Kant, dividem-se em deveres negativos, limitativos, que exigem do sujeito um dever de omissão relativamente aos fins contrários à sua natureza, e deveres positivos, ampliativos, que o obrigam a agir com vistas ao aperfeiçoamento de si mesmo. Os deveres negativos, entre os quais se inclui o da autopreservação, e cuja virtude é lutar contra o vício do suicídio, são deveres perfeitos, estritos, pois o cumprimento deles não enseja exceção. Os deveres de virtude com os outros, por seu turno, são todos deveres imperfeitos, pois a latitude de sua observância – embora não a observância em si mesma – fica, em cada caso, à discrição do agente moral. Quanto ao suicídio, inúmeras passagens do corpus kantiano corroboram a visão corrente de que Kant lhe rejeita qualquer laivo de moralidade, uma vez que a manutenção da própria vida constituiria um dever estrito. Por outro lado, é patente que os deveres de amor com os outros podem se chocar em alguns casos com deveres perfeitos. Assim, pensando na indagação que Kant levanta nas questões casuísticas relativas ao dever de beneficência, poderíamos cogitar um dever que consista em colocar nossa própria vida em risco por amor ao nosso semelhante. Procurarei mostrar, no presente trabalho, que Kant precisa restringir o conceito de suicídio (como o faz em Tugendlehre, §6), fazendo uma diferenciação injustificável entre “sacrifício da vida” (Opfertod) e “autoassassínio” (Selbstmord), de molde a coadunar o dever consigo mesmo de jamais cometer suicídio com o dever lato de beneficência. Sustentarei, ainda, que a morte voluntária não fere, por si só, a máxima do imperativo categórico kantiano.
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