Memórias editadas – psicólogos alertam: a mania de tirar fotos o tempo todo pode estar destruindo nossas lembranças, e nos tornando pessoas mais superficiais.
O Instagram recebe 95 milhões de fotos por dia, são 1100 novas imagens no sistema a cada segundo. Isso sem falar nos outros bilhões de cliques armazenados nas memórias dos celulares e que nunca verão a luz do dia.
Nunca se fotografou tanto, claro. No início do século XXI ainda estávamos presos à quantidade de fotos que cabiam em um filme. O rolo podia abrigar 12, 24 ou 36 imagens. Logo, o momento de tirar uma foto era especial e poucos se aventuravam a esticar o próprio braço e tirar uma foto da própria cara. A chance de dar ruim era gigantesca. As câmeras digitais acabaram com a limitação de poses. O celular realizou uma utopia: colocou uma câmera digital em cada bolso – ou quase isso: 60% dos brasileiros tem smartphone; entre os jovens adultos (18 a 34 anos), são 85%. Há quem não tenha onde morar, mas possua o seu aparelhinho, com uma câmera digital embutida que, há 20 anos, custaria 5 mil dólares.
E tome foto. De tudo. De todos.
Só tem um problema: esse hábito pode estar acabando com as nossas vidas – pelo menos com a forma como lembramos das nossas vidas.
E pode estar distorcendo nossas personalidades também. Feche a câmera do seu celular e vamos entender isso.
Lembranças incompletas
O celular é o HD externo do nosso cérebro. Uma extensão da nossa memória. E isso começou bem antes do celular. Desde sempre, a humanidade buscou formas de expandir a capacidade de guardar informação que trazemos de fábrica. Das pinturas rupestres , aos livros e quadros. Quase tudo o que entendemos como “cultura” vem do impulso de tornar a vida um fenômeno menos furtivo.
Quando você vive com uma câmera fotográfica com capacidade virtualmente infinita no bolso, no entanto, a tendência é que você se preocupe mais com registrar momentos do que em prestar atenção neles. Aí complica.
“Prestar atenção é fundamental para codificar informações na memória” diz a italiana Giuliana Mazzoni, professora de psicologia da Universidade de Hull, no Reino Unido, e especialista no assunto. Giuliana é um de vários psicólogos acadêmicos que amaldiçoam o hábito de tirar fotos – ao menos quando ele se torna uma compulsão. “ se você adquire esse hábito, seu cérebro pode começar a processar informações de forma mais superficial.” Resultado: memórias mais fracas, mais difíceis de acessar.
Ainda há relativamente poucos estudos sobre o tema. Um deles, conduzidos pelos psicólogos de Yale, Wharton e outras Universidades americanas, diz que o hábito de tirar fotos tem um detalhe positivo bastante óbvio: nos ajuda a lembrar de detalhes visuais. Mas prejudica outros aspectos da memória. No teste, 294 participantes foram convidados para ir a um museu. Parte deles pode tirar fotografias ao longo da visita e a outra não. Quem levou uma câmera conseguiu se lembrar melhor de detalhes visuais das obras de arte, mas se saiu pior na hora de recordar informações a respeito do acervo que tinha ouvido durante a visita.
Outro estudo, feito pela psicóloga Linda Henkel, da Universidade Faire-Field nos EUA, é até mais pessimista. A conclusão ali é que não, tirar foto não ajuda nem na retenção de memórias puramente visuais. “As pessoas sacam sua câmera praticamente sem pensar, na esperança de capturar o momento, e acabam deixando de perceber o que está acontecendo bem ali, na cara delas.” disse Henkel à revista americana Phisicological Science.
Henkel também levou um grupo de voluntários a um museu. Uma parte do pessoal estava munida de câmeras. A outra, sem nada. No dia seguinte, Henkel mostrou imagens de obra de artes aos participantes, perguntando se elas estavam ou não no museu. O grupo que tirou fotos teve mais dificuldades em reconhecer quais obras de arte tinham visto.
“As pessoas delegam à câmera a tarefa de lembrar as coisas por elas. E isso tem um impacto negativo na forma como elas recordam suas experiências, conclui a psicóloga.”
Para Giuliana Mazzoni, a era da fotografia instantânea também pode ter reverberações em nossa personalidade. “ As selfies e poses são planejadas, não têm naturalidade” ela diz. “se a gente se basear fortemente em fotos ao nos lembrarmos do passado, poderemos criar uma identidade própria distorcida com base na imagem que desejamos promover para os outros.”
Estamos todos fadados a virar zumbis sem personalidade então?
Claro que não. O fato é que ainda há muito o que pesquisar sobre o assunto. Por via das dúvidas, porém, vale lembrar:
Considerando a leitura do texto, responda:
1) O texto pode ser considerado:
a) Narrativo
b) Descritivo
c) Dissertativo
2) Justifique sua resposta do item anterior.
Respostas
respondido por:
3
Resposta:
b)
pois ele descreve como as nossas memórias são editadas e não pode ser dissertativo pois há itens com 1 pessoa e não pode ser narrativo pois não há narrador
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