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No trem do metrô entrou um grupo de três ou quatro pessoas com um menino de cerca de seis anos. Não havia mais lugares vagos para sentar, ficaram todos em pé.
A criança deu sinais de impaciência, e um dos adultos perguntou-lhe se queria ouvir uma história. Sem chance de recorrer a um jogo eletrônico ou outra distração qualquer, o garoto concordou.
O rapaz começou: era uma vez… Pela entonação da voz, clara, firme, agradável, parecia professor ou algo do gênero, talvez ator.
Começou por um bichinho, um bichinho imaginado, cheio de sonhos e desejos de conhecer o mundo. O narrador ia inventando o enredo à medida que o contava, descrevendo o local onde o bichinho morava, seus amigos, seus planos.
Os olhos do menino brilhavam, esqueceu-se do desconforto e do metrô, interviu com perguntas, contribuiu para o desenvolvimento da trama. Que, aliás, nada tinha de extraordinário, mas o rapaz sabia fazer pausas na hora certa e, de vez em quando, o suspense era tanto que o garoto prendia a respiração.
Mas não eram só os olhos do menino que brilhavam, nem só dele a ansiedade de saber o destino do bichinho. Todo mundo em volta virou plateia da trama inocente, interessada no desenrolar das aventuras do protagonista. Viramos prisioneiros voluntários daquele enredo singelo. Um lance inesperado que fez as pessoas abstraírem o trem, o barulho, o ambiente.
O grupo saltou do metrô antes de mim, não sei como a história terminou, ou mesmo se chegou a ter um final. Fiquei no meu canto pensando como um jovem assim, de mochila surrada às costas e tênis modestos, pode fazer a diferença na vida de uma criança. Quis dizer-lhe isso, mas me contive, com medo de quebrar o encanto do garoto. Então digo agora, ainda que seja remotíssima a hipótese de que ele esteja lendo esta crônica e se lembre do fato banal. Obrigada pelo fragmento de narrativa
que tive a oportunidade de ouvir. Coisas assim nos fazem ter uma recaída de esperança.