• Matéria: Artes
  • Autor: playstroll
  • Perguntado 4 anos atrás

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respondido por: glisley1queiroz
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Bossa nova

Bossa nova é o termo pelo qual ficou conhecido um movimento de renovação do samba irradiado a partir da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro no final da década de 1950 e que, por conseguinte, passou a dar nome ao estilo de interpretação e acompanhamento rítmico dele surgido, que ficou conhecido como “batida diferente”.[nota 1] De acordo com o musicólogo Gilberto Mendes, a vertente era uma das “três fases rítmicas do samba”, na qual a "batida" da bossa havia sido extraída a partir do "samba de raiz".[nota 2] Segundo o jornalista Ruy Castro, era “uma simplificação extrema da batida da escola de samba”, como se dela tivessem sido retirados todos os instrumentos e conservado apenas o tamborim.[nota 3]

O marco inicial da bossa nova é o samba "Chega de Saudade" (de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), lançado originalmente por Elizeth Cardoso em 1958 e, pouco depois, por João Gilberto, que tocou violão em ambas as gravações.[2] Paralelamente a isso, o pianista e vocalista Johnny Alf, desde a gravação de “Rapaz de bem”, canção marcada pela influência do jazz, também se tornava um dos pioneiros da renovação do samba naquele momento.[3] Em 1959, com o LP "Chega de Saudade", Gilberto consolidaria esse novo estilo de tocar que alterava as harmonias com a introdução de acordes não convencionais — como antes já realizavam violonistas como Garoto, Vadico, Oscar Bellandi, entre outros — e uma sincopação do samba inovadora a partir de uma divisão única realizada sobre sambas tradicionais como “Rosa morena” (de Dorival Caymmi), “Morena boca de ouro”, de Ary Barroso, “Aos pés da cruz” (de Marino Pinto e Zé da Zilda) e “É luxo só” (de Ary Barroso e Luís Peixoto).[3] A partir e em torno de João Gilberto, um grupo de músicos, quase todos oriundos de classe média e com formação universitária, ajudaria a transformar as experiências formais do violonista baiano. O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista Chet Baker.[4][5]

A partir da década de 1960, o samba de bossa nova consolidou-se definitivamente no cenário musical do Brasil, onde se destacaram, além de Gilberto e da dupla Tom e Vinícius, nomes como Newton Mendonça, Billy Blanco, Aloysio de Oliveira, Baden Powell, Oscar Castro Neves, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Sérgio Mendes, César Camargo Mariano, Airto Moreira, Eumir Deodato, Milton Banana, João Donato, entre vários, além do surgimento de inúmeros conjuntos vocais, como Os Cariocas, ou instrumentais, como Bossa Três, Tamba Trio, Bossa Rio, Copa 5, Sambalanço Trio, Os Catedráticos, entre outros.[2] Foi nesse mesmo momento que o estilo experimentou uma projeção internacional em escala jamais vista com outra vertente da música popular brasileira.[1] Em 1962, o saxofonista Stan Getz em conjunto com o guitarrista Charlie Byrd lançaram o LP "Jazz Samba", o que chamou a atenção do meio musical nos Estados Unidos para a bossa nova. Naquele mesmo ano, um concerto no Carnegie Hall de Nova York, que reuniu Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, abriu de vez as portas do mundo para o estilo.[2][6] No ano seguinte, com o lançamento do LP Getz/Gilberto, parceira entre o violonista brasileiro e o saxofonista americano, tornou a vertente conhecida mundialmente, além de arrebatar o Grammy Award para álbum do ano de 1965. Dois anos depois, sob o título “The girl from Ipanema”, versão em inglês para o famoso samba Garota de Ipanema, de Tom e Vinicius, foi gravado por Frank Sinatra.

No entanto, já em meados dos anos sessenta, o movimento bossa-novista passava por uma cisão. De um lado, um grupo manteve-se fiel a estética leve, caracterizada por letras de temas amenos e descompromissados com a realidade brasileira ou qualquer espécie de participação social, pelo tom suave e intimista (personalizado na voz de João Gilberto) e a forte influência do jazz. De outro lado, outro grupo formado por compositores como Baden Powell, Sergio Ricardo e Carlos Lyra e por letristas como Vinicius de Moraes e Nelson Lins e Barros associou-se ao movimento geral da cultura brasileira no sentido de buscar uma base popular folclórica nas músicas e uma temática de realismo e participação social nas letras.[7] Foi essa dissidência que veio estabelecer uma conexão importante entre o samba da bossa nova e o samba das camadas populares, geralmente conhecido como “do morro” ou "de raiz", fazendo com que nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti e Elton Medeiros — sambistas de prestígio no meio do "samba de raiz", mas alijados do mercado fonográfico de época — passassem a ser conhecidos por uma fatia do público jovem e universitário. É nesse novo contexto que o o cenário artístico brasileiro viu surgir uma nova geração de compositores, como Paulinho da Viola, tido ali como um sucessor de Noel Rosa ou de Ismael Silva, e Chico Buarque, autor de composições que logo se tornariam sambas antológicos.

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