O meu melhor amigo morreu numa tarde triste de sexta-feira. O sol ainda era quente e o calor era intenso. Morreu de um jeito cruel. Vítima de um sistema político e religioso que não sabia entender que Deus prefere os miseráveis. Morreu porque amou demais, morreu porque não sabia mentir.
O meu melhor amigo não sabia ser indiferente. Viveu o tempo todo recolhendo os que estavam caídos e desacreditados. Ele foi um ser humano inesquecível. Entrava em lugares proibidos e dormia na casa de pessoas abomináveis. Trocou santos por Zaqueu, doutores por Mateus. Não se preocupava com o que os outros estavam achando dele, mas ocupava-se de sua vida como se cada instante vivido fosse o último.
O meu melhor amigo tinha o poder de ser irreverente. Ele olhava nos olhos dos fracassados e lhes restituía a coragem perdida. Segurava nas mãos dos cansados e os convencia que ainda lhes restavam forças para chegar.
O meu melhor amigo era desconcertante. Tinha o dom de confundir os sábios e encantar os simples. Eu, certa vez, também me encantei com ele. Chegou num dia em que eu não sei dizer qual foi. Chegou numa hora em que não sei precisar. Sei que chegou, sei que veio. Entrou pela porta da minha vida e nunca mais o deixei sair. Somos íntimos. Minha fala está presa à dele. Eu o admiro tanto que acabo tendo a pretensão de querer ser como ele. Já me peguei cantando para ele os versos de Tom Jobim: "Não há você sem mim e eu não existo sem você!" Ele sorri quando eu canto.
O meu melhor amigo me ensina a ser humano. Ele me ensina que a vida é uma orquestra linda, mas dói. Ele me ensina a apreciar os acordes tristes... e aí dói menos. A beleza distrai a tristeza. Foi assim que eu assisti à sua morte na Sexta-feira Santa. Eu sabia que era passageira. Era apenas um interlúdio feito de acordes menores, dilacerantes de tão tristes. Meu amigo não sabe ser morto. Ele gosta é de ser vivo, vivente! E é assim que eu entendo a dinâmica da Ressurreição. Quando digo: "Ele está no meio de nós!" eu estou convidando o meu amigo a ser vivo através de mim. Quem ama, de verdade, leva sempre a criatura amada por onde vai. E é assim que o amor vai se tornando concreto no meio de nós. É assim que a vida vai ficando eterna... e a gente vai ressuscitando aos poucos...
Hoje eu acordei mais feliz. Nada de especial me aconteceu. Apenas me recordei de que meu melhor amigo ainda acredita em mim, apesar de tudo. Eu sou um legítimo representante de sua ressurreição no mundo. Não posso me esquecer disso. As pessoas olham para mim... eu espero que elas não me vejam... eu espero que vejam o meu melhor amigo, em mim.
(Padre Fábio de Melo)
01) Justifique o título dado ao texto:
02) Quem é o melhor amigo do autor? Em que momento do texto isso ficou mais nítido?
03) Segundo o autor, por que motivos o melhor amigo dele foi morto?
04) Apesar de já ter passado tanto tempo, esses motivos e e essa incompreensão ainda continuam presentes em nossa sociedade? Justifique sua resposta:
05) O que diferenciava o melhor amigo do autor dos demais homens?
06) Justifique as aspas usadas no quarto parágrafo do texto:
07) Copie do texto uma passagem que comprova o quão íntimo o autor se sente de seu melhor amigo, justificando sua escolha:
08) Transcreva do texto uma metáfora, explicando-a:
09) Posicione-se sobre a passagem que se encontra em negrito no texto, argumentando bem:
10) Tal passagem trata-se de um fato ou de uma opinião? Por quê?
11) Qual a transitividade do verbo sublinhado no texto? Justifique sua resposta:
12) Copie do texto um par de antítese, explicando:
13) Que mensagem o texto transmite? Comente:
14) Localize no texto:
a) um pronome possessivo:
b) um substantivo composto:
c) dois substantivos próprios:
d) um advérbio de negação:
e) dois advérbios de tempo:
f) dois advérbios de intensidade:
g) um numeral:
h) quatro adjetivos:
i) um advérbio de lugar:
j) um advérbio de modo:
Respostas
Resposta:
1. Cadê o título?
2. Não diz quem é ou o seu nome.
3. Vítima de um sistema política e religioso que não sabia entender que Deus prefere os miseráveis. Ou seja por ele ser pobre e pregar a respeito de Deus.
4. Sim, sempre haverá esses preconceitos e crimes brutais contra os cristãos, não importa o quanto temos evoluído nunca será 100% globalmente respeitado todas as crenças e religiões, sempre haverá um ímpio dizimando contra a vida de um Cristão pelo nome de Jesus.
5. Ele não era apenas um bom Cristão, era um ótimo ser religioso e humanamente bom, "olhava nós olhos dos fracassados e lhes restituía a coragem perdida."
6. São usadas como uma frase motivacional e importante, uma metáfora.
7. "As pessoas olham para mim... eu espero que elas não me vejam... eu espero que vejam o meu melhor amigo, em mim."
O quanto ele o admirava e o conhecia, para continuar mostrando o seu amigo nele mesmo.
8. "Não há você sem mim e eu não existo sem você."
Ele não saberia como viver sem o exemplo de caráter e humildade de seu amigo.
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13. De amor ao um que um dia foi desconhecido, e que no fim foi um grande melhor amigo.
Explicação:
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