• Matéria: Português
  • Autor: emersonviletti
  • Perguntado 4 anos atrás

Cobrança Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro.Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente. ”— Você não pode fazer isso comigo — protestou ela. — Claro que posso — replicou ele. — Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou. — Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise... — Já sei — ironizou ele. — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu.Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo. — Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta... — Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei,avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida. Neste momento começou a chuviscar. — Você vai se molhar — advertiu ela. — Vai acabar ficando doente. Ele riu, amargo: — E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve. — Posso lhe dar um guarda-chuva... — Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.Ela agora estava irritada: — Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui. — Sou seu marido — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação. Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz. Moacyr Scliar O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001. 1. Por suas características, esse texto pertence ao gênero: *
a. Peça teatral.
b. Crônica.
c. Depoimento.
d. Fragmento de romance.

Respostas

respondido por: marcilenegomes529
0

Resposta:peça teatral,

(A)

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