Question

A casa tomada

1) Quais são os elementos principais de uma narrativa e que aparecem no conto do Cortázar?
2) Como é a estrutura básica do enredo? Faça uma separação do conto de acordo com essa estrutura.
3) Quem são os personagens principais?
4) Qual é o ponto de vista do narrador?
5) Leia o trecho a seguir:
“Entramos nos quarenta anos com a inexprimível ideia de que o nosso, simples e silencioso matrimônio de irmãos, era o fim necessário da genealogia fundada por nossos bisavós em nossa casa. Morreríamos ali em algum dia, vagos e distantes primos ficariam com a casa, e a demoliriam para enriquecerem com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos, inflexivelmente, antes que fosse demasiado tarde.”
a) Qual é o papel que a casa desempenha na história? Como você enxerga a relação do ambiente com os irmãos?
b) Essa previsão se materializa? Por quê?
6) Por que o conto tem este título?
7) Num determinado momento da história, o personagem diz: “Passávamos bem, e pouco a pouco começávamos a não pensar. Pode-se viver sem pensar”. Você concorda com isso? Justifique sua resposta.
8) “— Tomaram esta parte – disse Irene.” – Quem, você diria, que tomou a casa?
9) Encontre ao menos duas palavras desconhecidas por você e procure o significado delas.


Tradução da entrevista

- Por exemplo, aí está a [história] desses irmãos expulsos de sua casa. Casa Tomada. Houve um tempo em que se disse que esse conto, que é um conto muito breve e profundamente intenso, era um conto que queria ser como uma alegoria do peronismo e da situação da argentina. Isso é certo ou é uma...?
- Não, não, é absolutamente certo, sim, e foi para mim uma surpresa inteirar-me de que existia essa versão. Foi talvez a primeira vez em que eu descobri uma coisa que, no fundo, é muito bela, e que é a possibilidade da múltipla leitura de um texto. Ou seja, descobrir que há leitores que te seguem como escritor, que se interessam pelo que você faz, e que, ao mesmo tempo, estão lendo seus contos ou suas novelas desde uma perspectiva totalmente diferente da sua no momento de escrita. Que tem uma segunda ou uma terceira interpretação. Minha interpretação desse conto, posso te dizer, e já disse em outras entrevistas, é o resultado de um pesadelo. Eu sonhei esse conto, só que não era com os dois irmãos. Havia uma só pessoa, que era eu, e me deslocava... Algo que não se podia identificar me deslocava pouco a pouco nos cômodos de uma casa. Quer dizer, havia essa sensação que temos nos pesadelos em que há um espanto total mas nada se define. É simplesmente o medo em um estado puro. Algo espantoso vai acontecer um segundo depois e, às vezes, por sorte você acorda. Quase sempre você acorda antes que isso se produza. Bom, nesse caso era o mesmo: havia uma coisa espantosa que avançava indefinível, se traduzia por ruídos, uma sensação de ameaça que avançava, então eu ia criando barreiras, retrocedendo e fechando portas, até que a última porta era a porta da rua. E nesse momento eu acordei, antes de sair à rua, despertei e me lembro muito bem que imediatamente fui à máquina de escrever e escrevi um conto de uma vez. Ou seja, essa é minha leitura desse conto. Agora, essa interpretação de que talvez eu estivesse traduzindo minha reação como argentino diante do que acontecia na política não se pode excluir. Porque é perfeitamente possível que eu tenha tido essa sensação, que no pesadelo se traduz de uma maneira fantástica, de uma maneira simbólica. Então, a mim parece válido como possível explicação. Não é a minha

Answer 1

Resposta:

Casa Tomada

, de Julio Cortázar, é um conto escrito em

1946, primeiramente publicado na revista Anales de Buenos Aires por

Jorge Luis Borges, e depois compilado com outros contos do autor no livro Bestiário,

de 1951. Foi inspirado no conto A

queda da casa de Usher, de Edgar Allan Poe. Cortázar consegue

dar uma nova roupagem ao seu texto, trazendo outras possibilidades de interpretação

e entendimento do conto. Casa Tomada é um modelo de conto do

realismo fantástico, tão tradicional na literatura latino-americana

no século XX e que tem em outro argentino, Jorge Luis Borges, o seu maior

expoente.

O fantástico do conto pode ser considerado como as forças estranhas

que invadem a casa e forçam a saída dos irmãos. Mas também

pode-se afirmar que o fantástico vai sendo construído através

do percurso do conto por meio de uma sintaxe particular que articula as suas

partes.

O enredo é relativamente simples: o narrador e sua irmã, Irene,

imersos na trivialidade da realidade cotidiana, têm a casa onde residem

tomada. Tomada pelo que? Não se sabe. Forças ocultas, entidades

insondáveis, forças irracionais. Entretanto, Cortázar se

utiliza neste conto de um recurso metafórico clássico: a realidade

objetiva da casa como representação da realidade subjetiva dos

personagens.

O conto inicia-se a partir da descrição da casa na qual o cotidiano,

a tradição, a rotina, a estabilidade e a noção de

espaço amplo são colocados. A idéia de um tempo eterno

que vem do passado e prolonga-se a um futuro que vai além dos irmãos

(até primos distantes) é inicialmente desenhado. Porém,

nesse relato de aparente serenidade, é colocada uma primeira suspeita:

a casa poderia ter impedido o casamento dos irmãos, a casa os unia. Após

a descrição da casa, o narrador começa a falar de Irene

(a irmã) e sua atividade: o tricô. Ela faz isso como qualquer outra

mulher:

“…yo creo que las mujeres tejen cuando han encontrado en esa labor

el granpretexto para no hacer nada“. (Cortázar,1997, p. 107)

Explicação:

Answer 2

1) Os elementos mais importantes de uma narrativa são:

• personagens;
• espaço;
• narrador ou foco narrativo;
• tempo;
• enredo.

Elementos centrais do conto "A Cada Tomada"

• Personagens: o narrador e sua irmã, Irene;
• Espaço: a mansão onde Irene e o narrador vivem em Buenos Aires;

• Narrador: o conto é narrado em primeira pessoa pelo protagonista;
• Tempo: tempo cronológico, que transcorre de forma linear acompanhando os fatos, do começo para o fim;
• Enredo: dois irmãos vivem a rotina da casa onde moram, quando o local é repentinamente invadido por fenômenos inexplicáveis. Aterrorizados, os personagens decidem abandonar o imóvel.

2) Estrutura: O conto costuma ser estruturado em quatro partes: introdução, desenvolvimento, clímax e conclusão.

Estrutura de "A Casa Tomada"

• Introdução: apresenta o narrador e sua irmã, a rotina da mansão onde moram e seus sentimentos em relação ao local. Destaca-se o fato de já estarem na faixa dos 40 anos de idade e nunca terem se casado, morando apenas os 2 em uma mansão enorme, herança de família.
• Desenvolvimento: aqui a narrativa explana a rotina dos irmão mais detalhadamente, o costume de tricotar de Irene e detalhes sobre a casa e a cidade.
• Clímax: ao ouvir sons indefinidos, o narrador acredita que parte da casa foi tomada por alguém. Ele e a irmã decidem viver apenas na parte da casa em que se encontram no momento. Com o tempo eles se acostumam a viver naquele espaço menor.
• Conclusão: Ao perceberem sons na parte da casa onde estão, os personagens concluem que esta área também foi tomada. Entristecidos, eles abandonam a casa com a roupa do corpo.

3) Os personagens principais são o protagonista e sua irmã, Irene.

4) O narrador está em primeira pessoa. É o protagonista do conto e seu nome não é citado na obra.

5.a) a casa representa a rotina, o não cumprimento da espectativa da família em relação aos irmãos e a missão fracassada de perpetuar a mesma. Também é um local que os confina ao mesmo tempo que proteje. Da mesma forma é a relação deles, já que um ao outro é tudo que eles têm.

5.b) a previsão de morrer ali não se cumpre. Já que ambos precisam deixar a casa repentinamente.

6) O conto tem este título pois uma presença inexplicável e não definida obriga os irmãos a deixarem a casa, que, segundo os diálogos dos personagens, estava sendo tomada.

7) Viver sem pensar pode significar alienar-se como forma de escapismo. Uma pessoa pode não questionar as situações da vida para manter-se em um estado confortável ou fugir de conflitos e preocupações.

8) O autor não deixa nenhuma informação clara sobre os invasores. É a reação dos personagens perante os acontecimentos que impressiona o leitor. Eles partem da amada casa para nunca mais voltar com desconcertante facilidade.

9) Como essa pergunta depende do conhecimento prévio individual, citaremos algumas palavras menos usuais encontradas no texto.

• sucumbem: verbo sucumbir, na terceira pessoa do plural - cair sob força de algo; dobrar-se, encurvar-se, submeter-se.
• gobelins: plural de gobelim - tapeçaria ou estofamento desenvolvido a partir do século XVIII, feito de tecidos nobres e ilustrados.

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