• Matéria: Português
  • Autor: sophiamoura1803
  • Perguntado 4 anos atrás

característica da ilha paty?

Respostas

respondido por: anac64461
1

Resposta:

informações, histórias, e me deram a real dimensão da minha ignorância e falta de

vivência sobre vários assuntos. Me identifiquei (sem me comparar, é claro) com

passagens da biografia de Luiz Gama, o advogado também negro e baiano, e

perturbei todo mundo dizendo para lerem o romance Um defeito de cor, da Ana

Maria Gonçalves.** Me emocionei ao escutar as histórias dos meus parentes mais

velhos. Dei muitas risadas ao relembrar as aventuras com meus companheiros de

teatro e os amigos de infância do bairro do Garcia.

O Espelho foi o grande marco. Surgiu a partir do Cabaré da raça (1997),

espetáculo criado e encenado pelo Bando de Teatro Olodum, grupo no qual entrei

aos dezesseis anos, em Salvador. O programa estreou na TV quando já fazia cinco

anos que eu estava longe do Bando, morando no Rio. Ou seja: teve início num

período em que eu já não estava mais tão próximo dos meus pares, aqueles que

compartilhavam comigo uma determinada visão sobre alguns aspectos da questão

racial no Brasil.

Ter passado a conviver com pessoas que não refletiam sobre o racismo no seu dia

a dia me fez buscar argumentos para inserir esse tema nas conversas. Queria que

elas percebessem o que para mim era tão claro. Queria dividir sem medo minha

sensação de entrar num restaurante e ser o único negro no lugar. Queria mostrar as

riquezas da cultura afro-brasileira, da qual eu tanto me orgulho e que é tantas vezes

ignorada.

A experiência no Espelho me dizia que havia acontecido uma mudança de atitude

e eu identificava nos negros uma vontade de não “ficar na queixa”. A palavra

“identidade”, que passou a aparecer com cada vez mais frequência, calou fundo em

mim. Ao mesmo tempo, comecei a ter a clareza de que essa não é uma “questão dos

negros”. É uma questão de qualquer cidadão brasileiro, ela diz respeito ao país, é

uma questão nacional. Para crescer, o Brasil precisa potencializar seus talentos, e o

preconceito é um forte empecilho para que isso aconteça. Vamos buscar soluções

efetivas para transformar essa situação?

Esta viagem que começa aqui só é possível porque redescobri um mundo que é

meu, mas que não pertence só a mim. Ele é parte de uma busca que todos nós

devemos fazer para compreendermos quem somos. Por isso, sempre que eu falar

de mim neste livro, estarei também falando sobre você. Ou, ao menos, sobre essa

busca saudável por identidades.

Os momentos que soarem mais autobiográficos estão aqui apenas para servir de

fio condutor da viagem que fiz para destrinchar esse tema. Se posso fazer alguma

sugestão, aconselho que abra este livro não para encontrar minha biografia, mas

para ouvir as vozes dos que estão ao meu lado. Estas páginas foram elaboradas por

Explicação:

várias vozes. É uma narrativa capitaneada por mim, mas que conta com a

contribuição de uma série de personagens — alguns famosos e muitos anônimos —,

que se reúne aqui para construir um caudaloso fluxo de informações, sentimentos e

reflexões. São pessoas de diferentes idades, profissões, gênero e religiões.

Uso esta espécie de apresentação para dizer que ainda tenho muito a aprender e

que eu sei que ainda há muitas respostas a buscar fora e dentro de mim. Não sou

um acadêmico ou um pensador com trabalhos voltados para esta temática, e nunca

pretendi expor aqui um estudo, mesmo que informal, sobre as questões raciais no

Brasil.

Sei que encontrei em você uma companhia, que escolheu este livro numa livraria,

ou o ganhou de presente de um amigo que não teve tempo de procurar outra coisa,

ou quem sabe você o encontrou jogado num canto e começou a folheá-lo por

acaso. Quem é você? Provavelmente nunca saberei, mas o importante é que o

milagre aconteceu e agora estamos juntos, vestindo a mesma pele, esta pele que

viaja conosco e que nos antecede.

Espero que aqui você dialogue prazerosamente com outras pessoas. Com elas,

além de ter aprendido muita coisa, organizei ideias, pontos de vista e percepções a

respeito de como somos afetados individual e coletivamente por simples gestos

(sejam eles positivos ou negativos).

A linha que costura este livro é a minha formação de identidade e consciência

sobre esse tema, mas que, no fundo, é só um artifício para falar de todos nós.

Por enquanto é isso.

Boa viagem.

P.S.: Anos depois, um taxista me disse de forma efusiva: “Grande Álvaro Gom


sophiamoura1803: obg
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