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Verbos dicendi
Os verbos dicendi são aqueles que utilizamos para nos auxiliar a reproduzir a forma como o interlocutor se expressa.
Os verbos dicendi são aqueles que utilizamos no discurso direto para indicar o início da fala de um personagem ou o modo como o interlocutor expressa-se.
Veja alguns exemplos desses verbos:
VERBO
SENTIDO
Dizer
Afirmar, declarar
Perguntar
indagar, interrogar
Responder
retrucar, replicar
Contestar
negar, objetar
Concordar
assentir, anuir
Exclamar
gritar, bradar
Pedir
solicitar, rogar
Exortar
animar, aconselhar
Ordenar
mandar, determinar
Os dicendi são também conhecidos como verbos de elocução/declaração. Para compreendermos melhor a utilização deles no discurso direto, observe o trecho do livro “A bolsa Amarela” de Lygia Bojunga:
CAPÍTULO 2 - A BOLSA AMARELA
Meu irmão chegou em casa com um embrulho. Gritou da porta:
- Pacote da tia Brunilda!
Todo o mundo correu, minha irmã falou:
- Olha como vem coisa.
Rebentaram o barbante, rasgaram o papel, tudo se espalhou na mesa. Aí foi aquela confusão:
- O vestido vermelho é meu.
- Ih, que colar bacana! vai combinar com o meu suéter.
- Vê se veio alguma camisa do tio Júlio pra mim.
- Que sapato alinhado, tá com jeito de ser meu número.
Eu fico boba de ver como a tia Brunilda compra roupa. Compra e enjoa. Enjoa tudo: vestido, bolsa, sapato,
blusa. Usa três, quatro vezes e pronto: enjoa. Outro dia eu perguntei:
- Se ela enjoa tão depressa, pra que que ela compra tanto? É pra poder enjoar mais?
Ninguém me deu bola. Fiquei pensando no tio Júlio. Meu pai diz que ele dá um duro danado pra ganhar o dinheiro que ele ganha. Se eu fosse ele, eu ficava pra morrer de ver a tia Brunilda gastar o dinheiro numas coisas que ela enjoa logo. Mas ele não fica. Eu acho isso tão esquisito! Outra coisa um bocado esquisita é que se ele reclama, ela diz logo: "Vou arranjar um emprego." Aí ele fala: "De jeito nenhum! " E dá mais dinheiro. Pra ela comprar mais. E pra
continuar enjoando. Vou ver se um dia eu entendo essa jogada.
Não parava de sair coisa do pacote. Minha mãe falou:
- Que boazinha que é a Brunilda: sabe como a gente vive apertada e cada vez manda mais roupa.
Eu parei de fazer o dever e fiquei espiando. Vi aparecer uma bolsa; todo o mundo pegou, examinou, achou feia e deixou pra lá.
Antes, quando chegavam os pacotes da tia Brunilda e não sobrava nada pra mim, eu ficava numa chateação daquelas. E se eu pedia qualquer coisa o pessoal falava logo:
- Ora, Raquel, a tia Brunilda só manda roupa de gente grande, não serve pra você.
- É só cortar, diminuir.
- Não adianta: mesmo diminuindo tudo continua com cara de roupa de gente grande.
- Roupa não tem cara.
- Tem, sim senhora.
E nunca fiquei com nada. Num instantinho sumiam com tudo, e usavam; usavam, usavam até pifar. Aí, no dia que a roupa pifava, a gente ajeitava daqui e dali, e a roupa ficava pra mim. Eu não dizia nada. Até que uma vez não resisti e perguntei:
- Quer dizer que quando a roupa pifa, pifa também a tal cara de roupa de gente grande?
E o pessoal falou que sim, que era isso mesmo. (É por causa dessas transas que eu queria tanto crescer: gente grande tá sempre achando que criança tá por fora.)
(...)
(BOJUNGA, L. A bolsa amarela. - 22.ed.- Rio de Janeiro: Editora Agir.1993)
Note como a autora utilizou-se dos verbos para introduzir as falas das personagens e, ao mesmo tempo, reproduzir fielmente o modo como elas se expressavam, ora perguntando, ora falando, ora gritando etc.