2 - Uma criança de sangue tipo O poderá ser filha de um casal cuja a mãe é tipo A, filha de pai tipo O e o marido tipo AB? *
Respostas
Resposta:
Além de ser um dado importantíssimo para questões de saúde, os tipos sanguíneos são um assunto amplamente abordado nas aulas de genética. Isso porque o tipo sanguíneo de uma pessoa está diretamente relacionado às informações presentes em seus genes.
Quando somos concebidos, metade de nosso material genético vem de nossa mãe, e a outra metade, de nosso pai. Herdamos de cada um deles um conjunto completo de informação genética. Sendo assim, cada um de nós carrega dois conjuntos de informação genética completos. No entanto, apesar de estarem relacionadas às mesmas características de nosso organismo, nem sempre essas informações são idênticas.
A forma como é determinado nosso tipo sanguíneo é um caso que ilustra essa questão. No caso do sistema ABO, cada pessoa possui duas vezes a informação genética que determina se seu tipo sanguíneo é A, B, AB ou O. Esta informação se encontra em um gene que, não por acaso, também se chama “gene ABO”.
Conforme já explicamos aqui, de acordo com o Sistema ABO, quem é do tipo A possui em seus glóbulos vermelhos uma molécula chamada “aglutinogênio A”, enquanto quem é do tipo B, possui aglutinogênio B; já quem é do tipo AB possui os dois aglutinogênios; e quem é do tipo O não possui nenhum deles (na realidade, essa letra “O” corresponde ao numeral “zero”, indicando ausência dessas substâncias).
Dessa forma, uma pessoa com o tipo sanguíneo A precisa herdar ao menos do pai ou da mãe a informação genética para produção do aglutinogênio A, e não pode herdar a informação para produção do aglutinogênio B (se isso acontecesse, a pessoa seria do tipo AB). Já quem é do tipo O, por exemplo, não pode herdar nem informação para produção do aglutinogênio A, nem informação para o aglutinogênio B. É por isso que se diz, por exemplo, que um casal em que tanto o pai quanto a mãe sejam do tipo AB (e, então, teriam de passar a seu filho, obrigatoriamente, a informação para a produção de aglutinogênio A ou B) não pode ter filhos do tipo O (pois, herdando a informação para A ou para B, seria consequentemente impossível o filho ser O).
Com base em deduções como a do parágrafo acima, muitas pessoas utilizam o tipo sanguíneo como uma forma de contestar a paternidade. No exemplo acima, a situação de um pai AB e uma mãe AB que tivessem um filho O traria ao pai um indício de que ele poderia não ser o pai da criança (ou que a criança poderia até mesmo não ser filha de nenhum dos dois, tendo sido trocada na maternidade).
No entanto, apesar de realmente podermos encarar esse fato como um indício, não podemos dizer que ele é uma comprovação de não paternidade. Isso porque a genética do sistema ABO é mais complexa do que estudamos no colégio 1.
Além de nosso DNA estar sempre sujeito a mutações que podem alterar parte da informação que, a princípio, herdaríamos de nossos pais, também há mais genes além do ABO envolvidos na determinação de nosso tipo sanguíneo.
Na realidade, as moléculas de aglutinogênio A e B são produzidas a partir de uma outra molécula, chamada de antígeno H. Quem é do tipo sanguíneo A transforma o antígeno H em aglutinogênio A, enquanto pessoas do tipo B transformam o antígeno H em aglutinogênio B. Já quem possui o tipo sanguíneo O, não transforma o antígeno H em nenhuma dessas moléculas. Ou seja, nessas pessoas, o antígeno H permanecerá, sempre, na forma de antígeno H.