Infância Aos nove anos, eu era quase analfabeto. E achava-me inferior aos Mota Lima, nossos vizinhos, muito inferior, construído de maneira diversa. Esses garotos felizes, para mim eram perfeitos: andavam limpos, riam alto, frequentavam escola decente e possuíam máquinas que rodavam na calçada como trens. Eu vestia roupas ordinárias , usava tamancos , enlameava-me no quintal, engenhando bonecos de barro, falava pouco. [...] o lugar de estudos era isso. Os alunos se imobilizavam nos bancos [...) . A imobilidade e a insensibilidade me aterraram. [...] Abandonei os cadernos e as auréolas [...]. Assim, aos nove anos ainda não sabia ler. Ora, uma noite, depois do café, meu pai me mandou buscar um livro que deixara na cabeceira da cama. Novidade: meu velho nunca se dirigia a mim. E eu, engolindo o café, beijava-lhe a mão, porque isto era praxe, mergulhava na rede e adormecia. Espantado, entrei no quarto, peguei com repugnância o antipático objeto e voltei à sala de jantar. Aí recebi ordem para me sentar e abrir o volume. Obedeci engulhando, com a vaga esperança de que uma visita me interrompesse . Ninguém nos visitou naquela noite extraordinária. Meu pai determinou que eu principiasse a leitura. Principiei. Mastigando as palavras, gaguejando, gemendo uma cantilena medonha, indiferente à pontuação, saltando linhas e repisando linhas, alcancei o fim da página, sem ouvir gritos. Parei surpreendido, virei a folha, continuei a arrastar-me na gemedeira, como um carro em estrada cheia de buracos. Ora, uma noite, depois do café, meu pai me mandou buscar um livro que deixara na cabeceira da cama. Meu pai determinou que eu principiasse a leitura. Com certeza o negociante recebera alguma dívida perdida: no meio do capítulo pôs-se a conversar comigo, perguntou-me se eu estava compreendendo o que lia. Explicou-me que se tratava de uma história, um romance, exigiu atenção e resumiu a parte já lida. Um casal com filhos andava numa floresta, em uma noite de inverno, perseguidos por lobos, cachorros selvagens. Depois de muito correr, essas criaturas chegavam à cabana de um lenhador . Era eu ou não era? Traduziu-me em linguagem de cozinha diversas expressões literárias. Animei-me a parolar. Sim, realmente havia alguma coisa no livro, mas era difícil conhecer tudo. [..] Recolhi- me preocupado: os fugitivos, os lobos e o lenhador agitaram-me o sono. Dormi com eles, acordei com eles. As horas voaram. Alheio à escola, aos brinquedos de minhas irmãs, à tagarelice dos moleques, vivi com essas criaturas de sonho, incompletas e misteriosas. À noite meu pai me pediu novamente o volume, e a cena da véspera se reproduziu: leitura emperrada, mal- entendidos, explicações. Na terceira noite fui buscar o livro espontaneamente, mas o velho estava sombrio e silencioso. [...] afastou-me com um gesto carrancudo. Nunca experimentei decepção tão grande. (RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record, 2006. Fragmento.) 3-Releia o fragmento acima do romance Infância, de Graciliano Ramos, e responda: a) Que tipo de narrador há no texto? ( ) Observador (x) Personagem b) Quando a história acontece? c) Quem é o personagem protagonista? d) Quem são os “fugitivos”, os lobos e o lenhador? Explique. e) Por que o narrador diz que dormia e acordava com os "fugitivos, os lobos e o lenhador”?
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Resposta:
a narrrativa do texto se vê na 1 pessoa
a história acontece no passado
o protagonista e um garoto analfabeto de cinco anos
os fugitivos , os lobos e o lenhador , são personagens fictícios de um livro literário
Explicação:
tomara que esteja certo pois essa foi minha resposta
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