• Matéria: História
  • Autor: Juhcristina7195
  • Perguntado 3 anos atrás

Explique, dentro da primeira vertente historiográfica sobre a Guerra, a associação entre as características políticas do Paraguai do período e as atuais mazelas econômicas enfrentadas por aquele povo. *

Respostas

respondido por: joaovitorrn2911
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Maior conflito da América do Sul, a Guerra do Paraguai (1864-1870) teve como causas desavenças políticas, econômicas e territoriais entre as nações da bacia platina.
A Guerra do Paraguai foi o maior confronto da história da América do Sul e foi travado desde finais de 1864 até 1870. Essa guerra mobilizou Brasil, Argentina e Uruguai em aliança contra o Paraguai por questões de interesse político, territorial e econômico na região da bacia platina. O saldo desse conflito foi desastroso de diferentes maneiras para os lados envolvidos: o Brasil saiu com sua economia em crise e com alto endividamento e o Paraguai foi arrasado pela guerra.A Guerra do Paraguai é um dos assuntos de maior complexidade e que gerou grande polêmica dentro da historiografia. Atualmente, a compreensão que se tem dessa guerra é completamente diferente da que existia em meados da década de 1990. A nova compreensão sobre esse conflito decorreu de estudos recentes realizados por historiadores paraguaios e brasileiros que tiveram acesso a uma ampla documentação, até então não analisada.

Ao longo do tempo, três interpretações (os historiadores chamam isso de historiografia) acerca do conflito popularizaram-se em diferentes momentos no Brasil, e a atual é a mais completa delas. As diferentes historiografias a respeito dessa guerra são a tradicional, a revisionista e a pós-revisionista ou nova historiografia.

A historiografia tradicional apontava a guerra única e exclusivamente como resultado da megalomania de Solano López, ditador do Paraguai, e desconsiderava uma série de eventos relevantes no contexto geopolítico da bacia platina. Essa historiografia foi muito comum no Brasil no início do século XX até a década de 1960, aproximadamente.A historiografia revisionista foi muito conhecida no Brasil na década de 1960 até meados da década de 1990. Segundo essa historiografia, o Paraguai era um modelo de desenvolvimento autóctone (nativo) e único na bacia do Prata. Isso desagradaria à Inglaterra, que, para sujeitar o Paraguai ao capitalismo inglês, manipulou Brasil e Argentina para que guerreassem e destruíssem o modelo econômico do Paraguai.

Hoje essa historiografia é considera pelos historiadores como ultrapassada e imprecisa, pois ignora diversos fatos do contexto platino e é muito criticada por não possuir comprovação documental. Os novos estudos foram realizados de maneira pioneira por historiadores paraguaios e brasileiros, entre os quais se destacam Juan Carlos Herken Krauer, Maria Isabel Gimenez de Herken, Ricardo Salles e Francisco Doratioto.Estudos mais recentes comprovam que o Paraguai não era uma nação desenvolvida, fato diferente do que era apresentado pelos historiadores décadas atrás. Governado por ditadores durante décadas, o Paraguai ficou isolado do restante do mundo por um longo período. Esse isolamento paraguaio é explicado pelo fato de Buenos Aires não ter aceito a independência e a separação do país do que havia sido o Vice-Reino do Rio da Prata.

Essa política de isolamento do Paraguai havia sido imposta no começo do século XIX pelo ditador José Gaspar Rodríguez de Francia e foi vista por ele como a melhor forma de garantir a independência paraguaia. Essa medida somente foi revogada durante o governo de Carlos Antonio López, que manteve, no entanto, o governo ditatorial.

Carlos Antonio López era pai de Francisco Solano López, ditador que assumiu o Paraguai em 1862 quando seu pai faleceu. Solano López manteve o governo ditatorial que havia sido a marca do Paraguai desde sua independência. Durante os governos dos López, esse país passou por um pequeno processo de modernização, no entanto, segundo o historiador Francisco Doratioto, essa modernização resumiu-se aos meios militares e não alcançou outras áreas do Paraguai|1|.

Essa modernização dos meios militares foi realizada sobretudo a partir de negociações feitas com a Inglaterra, com a aquisição de armamentos ingleses e o envio de técnicos ingleses ao Paraguai para treinar os exércitos locais e desenvolver uma infraestrutura relacionada a essa área. Acerca disso, segue o comentário de Doratioto:

É fantasiosa a imagem construída por certo revisionismo histórico de que o Paraguai pré-1865 promoveu sua industrialização a partir “de dentro”, com seus próprios recursos, sem depender dos centros capitalistas, a ponto de supostamente tornar-se ameaça aos interesses da Inglaterra no Prata. Os projetos de infraestrutura guarani foram atendidos por bens de capital ingleses e a maioria dos especialistas estrangeiros que os implementaram era britânica.

[…] Também é equivocada a apresentação do Paraguai como um Estado onde haveria igualdade social e educação avançada. A realidade era outra e havia uma promíscua relação entre os interesses do Estado e os da família López, a qual soube se tornar a maior proprietária “privada” do país enquanto esteve no poder|2|.



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