Pitangas
Fui flagrado apanhando pitangas no bairro de Perdizes. [...]
O nome justo e certo para o que eu estava fazendo é colhendo: eu estava colhendo pitangas na Rua Itapicuru. Gordas pitangas, de cores variando do vermelho ao roxo. Havia um disfarçado constrangimento na atenção com que eu agia, não olhava para lado nenhum que não para as pontas dos galhos, com receio de encontrar algum olhar de censura. Aquelas frutas pertenciam por direito aos pássaros do bairro. Eles não tinham supermercados ou feiras para se abastecer, os alimentos deles talvez tivessem escasseado durante a longa seca recém-terminada. As chuvas trouxeram alívio para as pitangueiras, que, parece, estavam se arrebentando de vontade de dar pitangas.
Havia duas ou três circunstâncias a meu favor. Uma delas: fui menino de convivência com pitangueiras. Isso marca a gente, deixa uma carência insolúvel quando se muda para apartamento numa metrópole. [...]
Outra circunstância a meu favor: a minha geleia de jabuticaba estava no finzinho. [...] De repente, achei uma ótima ideia fazer geleia de pitanga. [...]
Então, retomando o início: vinha eu de volta do supermercado, com dois saquinhos de compras miúdas, caminhando atento às armadilhas das calçadas, quando vi, no chão, o cenário perturbador: pitangas caídas, maduras, vítimas de algum vento da manhã, muitas delas comidas pela metade, quantidade de caroços limpos de frutinhas já degustadas… Olhei para o alto: afe! Pé carregado, do verde ao roxo. Adiante, outro pé, igual! Ah, o que a chuva e o sol haviam feito em quinze dias…
Foi automático: passei as compras de um saquinho do supermercado ao outro e comecei a colheita. Dava-me o prazer de escolher as mais bonitas. [...] Nesse momento, passava de carro um ex-colega de jornal, que me reconheceu e parou. Eu me senti ridículo. Já estava ensaiando explicações, longas talvez, que nos cansariam os dois, quando ele cortou:
– Maravilha! Eu sempre quis fazer isso e nunca tive coragem!
Desceu do carro e me ajudou.
ÂNGELO, Ivan. Pitangas. In: Veja São Paulo. 2009. Disponível em: . Acesso em: 25 abr. 2019. *Adaptado: Reforma Ortográfica. Fragmento.
Nesse texto, o trecho “Eu sempre quis fazer isso e nunca tive coragem” (7º parágrafo) é próprio da linguagem
coloquial.
padrão.
profissional.
regional.
Respostas
respondido por:
1
O trecho é próprio da linguagem coloquial.
Explicação:
Em "Eu sempre quis fazer isso e nunca tive coragem", a informalidade está presente pela atribuição de adversidade (oposição) à conjunção "e".
Geralmente, "e" é uma conjunção aditiva, que serve para ligar orações, estabelecendo um acréscimo de ideias ou ações.
Mas nesse trecho essa é uma conjunção adversativa, equivalente à "mas". Observe:
"Eu sempre quis fazer isso, mas nunca tive coragem."
(há uma oposição entre não ter coragem e sempre desejar fazer algo ousado).
Luis4040:
oi jalves poderia me ajudar??
respondido por:
0
Resposta:
letra A
Explicação:
linguagem coloquial
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