JESUS, de Miguel Torga
Comiam todos o caldo, recolhidos e calados, quando o menino disse: - Sei um ninho! A Mãe levantou para ele os olhos negros, a interrogar. O Pai, esse, perdido no alheamento costumado, nem ouviu. Mas o pequeno, ou para responder à Mãe, ou para acordar o Pai, repetiu: - Sei um ninho! O velho ergueu finalmente as pálpebras pesadas, e ficou atento, também. A criança, então, um tudo-nada excitada, contou. Contou que à tarde, na altura em que regressava a casa com a ovelha, vira sair um pintassilgo de dentro dum grande cedro. E tanto olhara, tanto afiara os olhos para a espessura da rama, que descobrira o manhuço negro, lá no alto, numa galha. A Mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo. Mas o menino continuou. Disse que então prendera a cordeira a uma giesta e trepara pela árvore acima. De novo o Pai levantou as pálpebras cansadas, e ficou tal e qual a Mãe, inquieto, com a respiração suspensa, a ouvir. E o pequeno ia subindo. O cedro era enorme, muito grosso e muito alto. E o corpito, colado a ele, trepava devagar, metade de cada vez. Firmava primeiro os braços; e só então as pernas avançavam até onde podiam. Aí paravam, fincadas na casca rija. A subida levou tempo. Foi até preciso descansar três vezes pelo caminho, nos tocos duros dos ramos. Por fim, o resto teve de ser a pulso, porque eram já só vergônteas as pernadas da ponta. Transidos, nem o Pai nem a Mãe diziam nada. Deixavam, apavorados, mudos, que o pequeno chegasse ao cimo, à crista, e pusesse os olhos inocentes no ovo pintado. O ninho tinha só um ovo. Aqui, o menino fez parar o coração dos pais. Inteiramente esquecido da altura a que estava, procedera como se viver ali, perto do céu, fosse viver na terra, sem precisão dos braços cautelosos agarrados a nada. £ ambos viram num relance o pequeno rolar, cair do alto, da ponta do cedro, no chão duro e mortal de Nazaré. Mas a criança, apesar de mostrar, sem querer, que de todo se alheara do abismo sobre que pairava, não caiu. Acontecera outra coisa. Depois de pegar no ovo, de contente, dera-lhe um beijo. E, ao simples calor da sua boca, a casca estalara ao meio e nascera lá de dentro um pintassilgo depenadinho. E o menino contava esta maravilha com a sua inocência costumada, como quando repetia a história de José do Egipto, que ouvira ler a um vizinho. Por fim, pôs amorosamente o passarinho entre a penugem da cama, e desceu. E agora, um nada comprometido, mas cheio da sua felicidade, sabia um ninho. A ceia acabou num silêncio carregado. Só depois, à volta do lume quente do cepo de oliveira em brasido, é que os pais disseram um ao outro algumas palavras enigmáticas, que o pequeno não entendeu. Mas para quê entender palavras assim? Queria era guardar dentro de si a imagem daquele passarinho depenado e pequenino. Isso, e ao mesmo tempo olhar cheio de deslumbramento os dedos da Mãe, que, alvos de neve, fiavam linho. E tanto se encheu da imagem do pintassilgo, tanto olhou a roca, o fuso, e aqueles dedos destros e maravilhosos, que daí a pouco deixou cair a cabeça tonta de sono no regaço virgem da Mãe.
TORGA, Miguel. Bichos. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1996.
Identificando os elementos da narrativa
Preencha o quadro abaixo:
Qual o título da história?
PERSONAGENS: quem são os personagens principais?
Os personagens secundários?
O que cada personagem faz?
LUGAR: local onde se passa a história. Esse local é detalhado? Passa-se em um só lugar? Esse local é um local da nossa imaginação ou ele é real? O que acontece em cada lugar?
TEMPO: quando ocorreu o fato/história?
CAUSA: surgiu um problema? O que aconteceu? Como aconteceu?
CONSEQUÊNCIA: como termina a história?
MORAL: o que se aprendeu com a história?
me ajudem
Respostas
respondido por:
7
- Jesus.
- O menino.
- Pai e mãe.
- O menino tenta pegar um pássaro no ninho, os pais ficam tensos e presenteiam a cena, o pai ainda ajuda a criança.
- Na casa da família, no quintal.
- Durante a infância do garoto.
- A problemática se desenvolve na vontade do garoto de ter um pássaro, então ele se ousa a escalar a árvore pra assim pegar no ninho.
- O garoto cai e sua mãe o denga.
- Que nem todo mundo é capaz de escalar uma árvore para pegar um pássaro.
Explicação:
espero ter ajudado, mas o contexto foi um pouco estranho para as perguntas expostas.
Perguntas similares
3 anos atrás
3 anos atrás
5 anos atrás
5 anos atrás
5 anos atrás
7 anos atrás
7 anos atrás