• Matéria: Português
  • Autor: daniel16fds
  • Perguntado 3 anos atrás

Cobrança
Moacyr Scliar
Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para
outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes:
“Aqui mora uma devedora inadimplente.”
— Você não pode fazer isso comigo — protestou ela.
— Claro que posso — replicou ele. — Você comprou, não pagou. Você é uma
devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe
cobrar, você não pagou.
— Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise…
— Já sei — ironizou ele. — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá
em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu?
Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
— Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta…
— Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você,
expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o
assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro
recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
Neste momento começou a chuviscar.
— Você vai se molhar — advertiu ela. — Vai acabar ficando doente.
Ele riu, amargo:
— E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
— Posso lhe dar um guarda-chuva…
— Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
— Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido,
você mora aqui.
— Sou seu marido — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou
cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa
geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você
não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O
que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou
ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso
pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa,
carregando o seu cartaz.

In: O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001.© by herdeiros de Moacyr
Scliar.

Análise da Crônica
1. Esse título desperta a atenção do leitor? Por quê?

2. O autor é observador ou personagem (foco narrativo)?

3. Como o narrador introduz as personagens?

4. Existe um elemento surpresa?

5. Que aspectos do cotidiano são narrados? De que forma?

6. Como é o diálogo das personagens?

7. É possível localizar o conflito? Em que consiste?

8. O que você achou do desfecho da crônica?

Respostas

respondido por: jucilenejk6
0

Resposta:

resposta da (a) sim por que é hora da cobrança

resposta da b um personagem

resposta da c como esposa e amiga

resposta da d sim a cobrança

resposta da e ousadas

resposta da

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